(Estava escrito nos astros que uma segunda legislatura em
minoria e sem um acordo parlamentar sólido iria conduzir a tiques irritantes
por parte do PS e já não há pachorra para as explicações seráficas de Ana
Catarina Mendes. Que personalidades como Vitalina
Canas aceitem o sacrifício parlamentar é coisa que me intriga sendo o dito
maçon, mas que um nome como o do Professor Correia de Campos seja envolvido
nesta trapalhada lamacenta incomoda-me que baste. Poupem-me à deceção de reconhecer
que já não conheço as pessoas).
Não fiquei convencido
sobre as razões que determinaram a não existência de um acordo parlamentar à
esquerda, atualizando o compromisso da geringonça. Não me pareceu convincente a
desculpa de que a esquerda, à esquerda do PS, rejeitou essa possibilidade.
Seria o primeiro a reconhecer a inevitabilidade do não acordo acaso o PS
tivesse demonstrado que os seus objetivos para a segunda legislatura não teriam
aceitação possível com uma reedição da geringonça. Em meu entender, essa
demonstração não se verificou. Por isso, preparei-me mentalmente para uma
instabilidade permanente, até porque à direita a procissão ainda vai no adro
para gerar interlocutores fiáveis e compromissos dignos desse nome.
Nestas condições,
insistir na proposta do nome de Vitalino Canas para o Tribunal Constitucional
se não é provocação, digam-me o que é. As personalidades políticas não se
regeneram por magia, trazem atrás de si um rasto que desenharam
voluntariamente, pois atravessaram a vida política tempo suficiente para
corrigirem qualquer perceção errada que a comunicação social tenha construído.
Assim, porque carga de razões teriam os restantes partidos com assento
parlamentar que aceitar as escolhas do PS sem qualquer negociação visível? Era
de um nome consensual que se tratava, garante de uma atuação no Tribunal
Constitucional que estivesse em linha com a sua independência e consistência
jurídicas? Não, a não ser que uma fada madrinha tivesse transformado o dito
Vitalino em porta voz da mais pura defesa dos princípios constitucionais.
Adivinhava-se, por isso, pelo menos em relação ao nome de Vitalino Canas a agitação
previsível, e tenho de confessar que o outro nome proposto pelo PS não me diz
rigorosamente nada e é bem possível que tenha levado por tabela, até
injustamente sei lá.
Que a seráfica Ana
Catarina Mendes tenha recuperado o argumento de que a sua principal preocupação
estava no bloqueio das instituições democráticas que os restantes partidos
parlamentares estavam a submeter a atuação do Parlamento já me espanta um
pouco. Nas condições atuais do xadrez parlamentar, ignorar a palavra chave
“negociação” pode constituir arrogância. Que haja personalidades como o
proposto Vitalino Canas que se prestem a estes jogos de avanços e recuos já não
me espanta. O argumento de que em democracia se ganha e se perde é real mas não
me convence. Há muitas maneiras de ganhar e de perder e neste caso o risco era
claro.
Mas o que me choca é
que o PS e a personalidade em causa, o Professor Correia de Campos, aceitem
envolver-se em mais uma trapalhada para a eleição do Presidente do Conselho
Económico e Social. Será que depois do que ofereceu à democracia com a sua
competência e por vezes com a capacidade de afrontamento de interesses
instalados seria justificável dar o nome para esta peça pouco recomendável?
Nota complementar (redigida em 03.03.2020, 09.00)
O Professor Correia de Campos anunciou entretanto que não se sujeitaria a uma terceira votação no Parlamento. Fez bem. Invocou razões pessoais. Poderia ter aproveitado para bater com a porta com maior estrondo, tinha autoridade para isso.
Nota complementar (redigida em 03.03.2020, 09.00)
O Professor Correia de Campos anunciou entretanto que não se sujeitaria a uma terceira votação no Parlamento. Fez bem. Invocou razões pessoais. Poderia ter aproveitado para bater com a porta com maior estrondo, tinha autoridade para isso.
Sem comentários:
Enviar um comentário