sábado, 7 de março de 2020

VAI-SE GOVERNANDO...


No passado fim de semana, quando concretizava um hábito de décadas – a leitura do “Expresso” –, dei por mim a pensar com os meus botões que o semanário, nos inevitáveis ciclos de altos e baixos que sempre acontecem, dava sinais de estar a entrar numa dessas fases conjunturalmente descendentes. Mas, logo de seguida, caí em mim e recuei em tal pensamento ao lembrar-me de alguns lados bons pontuais, como os das entrelinhas substantivas de dois textos que acabara de ler: o de Ricardo Reis, aliás magistral a vários títulos (deixo ao leitor interessado uma sinalização das questões do aumento da dívida pública como resultado da alternância democrática das primeiras quatro décadas da nossa democracia, por um lado, e das consequências decorrente da “geringonça” em termos de um foco na redistribuição entre grupos sociais e, inerentemente, em diferenças assentes na composição da despesa e receita públicas da polarização política, por outro), e o do diretor João Vieira Pereira (aproveitando inteligentemente a crítica avaliação anual da Comissão Europeia aos desequilíbrios da economia portuguesa). Ambos apontando para a incapacidade persistente de se produzirem em Portugal autênticas “reformas estruturais” (o nome está gasto pelo seu desregrado uso por parte dos economistas ortodoxos mas tal não implica que possamos desvalorizar a centralidade de uma mudança estrutural em aflitiva carência no País).


Longe estava eu de imaginar que, à sua maneira e limitado pelos seus condicionamentos institucionais e pela sua visão necessariamente mais político-institucional do que económico-estratégica, o presidente Marcelo viria no início da semana a produzir um discurso em linha com aqueles dois analistas na conferência dos 30 anos do “Público” (salvé!). E, muito menos, de que dessa intervenção imediatamente decorreria uma reação do número dois do Governo, Pedro Siza Vieira, indiciadora de uma potencial mudança do rumo governamental em matéria de procura de uma “relação mais sólida” à sua esquerda – será mesmo assim, até porque há quem continue a jurar que António Costa está mais desejoso de olhar para a sua direita? Isto no tocante ao dito plano dos equilíbrios político-institucionais, já que no domínio económico-estratégico os estrangulamentos são mais graves e complexos, ou seja, fiam ainda mais fino...


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