(Daniel Rocha para o Público)
(A possibilidade de serem concebidos e produzidos testes
de COVID-19 em Portugal e de alargar consideravelmente a capacidade de teste na
linha do que outros países conseguiram com êxito animou a semana passada
notícias e esperanças. O modo como essa matéria
foi vertida para as redes sociais ilustra bem os perigos de uma comunicação não
fiável veiculada por “artistas deste tempo” que é necessário confinar.)
Na
semana passada, vários jornais aos quais associamos credibilidade no modo como a
fundamentação das notícias é testada deram conta que o sistema científico
português se estava a movimentar para concretizar a conceção e elaboração de
testes de despistagem do COVID-19 mais rápidos e menos dependentes de materiais
importados (links aqui e aqui). Através dessas notícias, pude confirmar que a equipa da Professora
Maria Manuel Mota (seguida com interesse neste espaço de reflexão) estava a
desenvolver uma modalidade de teste rápido e que o Instituto Ricardo Jorge
estaria avisado de tal e em vias de avaliar a possibilidade de o certificar e
validar. Como é compreensível, essa possibilidade e a correspondente vontade
política de a colocar no terreno alargariam consideravelmente a capacidade nacional
de produção de testes não a toda a população mas pelo menos a população com
maior risco de letalidade se atingida pela disseminação do vírus.
Por
informação de um amigo com o qual tenho trocado reflexões sobre o tempo que atravessamos
tive conhecimento que, primeiro num grupo privado de What’s App e depois
por círculos mais alargados, circulava um post de uma figura que, ou
muito me engano, ou ficará conhecida por maus motivos em termos de disseminação
incendiária ou descuidada de notícias sobre a evolução da pandemia em Portugal.
O nome dessa personalidade é um matemático, Jorge Buescu de seu nome, que não é
propriamente um especialista em epidemiologia ou saúde pública. Nesse post, o incontinente
Buescu dava conta de que o teste da equipa de Maria Manuel Mota fora já
certificado e validado pelo Instituto Ricardo Jorge e, na qualidade de paladino
intrépido contra a desgraça, baseando-se numa conversa pessoal com o ministro da
Ciência e Ensino Superior, pressionava tudo e todos para a ação, insinuando
claramente na reflexão de que haveria alguma inércia política para aplicar o
resultado já validado pelo Instituto Ricardo Jorge.
Quando
li pela primeira vez a nota de Buescu não pude deixar de me recordar que o dito
cujo passara rapidamente de um desvalorizador da nova epidemia para as previsões
das curvas mais incendiárias possíveis em termos de comportamento do vírus em
Portugal. E não me inspirou confiança. Não que duvidasse de que a equipa da
Maria Manuel Mota teria o projeto em mãos e bastante avançado, várias notícias
anteriores o tinham confirmado, incluindo declarações da própria cientista. O
que me inspirou uma forte desconfiança foi o alarmismo da acusação de que a
inércia estaria instalada e sobretudo a invocação de uma conversa informal com
o ministro da Ciência e Ensino Superior que, ao que eu saiba, não terá produzido
qualquer declaração pública sobre o tema. Cataventos temos aos montes e sabemos
que em tempos como os de hoje, que exigem nervos de aço, os cataventos
embrulham-se com facilidade na busca de notoriedade.
A
fonte amiga que me informara sobre a nota facultou-me também uma outra nota,
assinada pelo jornalista de ciência do Público José Vítor Malheiros que
desancava naquele estilo de comunicação e o situava aliás como exemplo do que a
comunicação de ciência não é.
Quem
confia abertamente nas autoridades políticas e de saúde que estão ao leme deste
país como eu, teria sempre grande dificuldade em aceitar que, existindo essa
possibilidade de eficazmente e com rigor científico alargar consideravelmente a
realização de testes isso não fosse concretizado. Pelo que pude ouvir no comentário
de hoje de Marques Mendes está já em programação a primeira fase de extensão
desses testes. Há pouco li no Público on line que: “Governo lança operação preventiva da pandemia em lares de
idosos através da realização de testes de diagnóstico. O teste que vai ser
aplicado é sobretudo a versão desenvolvida pelo Instituto de Medicina Molecular
de Lisboa, ao qual o Estado encomendou já um total de dez mil testes”.
Estou
convencido que nos tempos difíceis que ainda nos esperam, muitos Buescus
aparecerão em cena. Temos de exercitar permanentemente a nossa capacidade de ir
vertendo para os caixotes do lixo os alaridos deste tipo de gente, com todos os
cuidados necessários, porque contaminam o ambiente.
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