terça-feira, 3 de março de 2020

UM MUNDO DE BARATAS TONTAS

(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com)

Vivemos dias estranhos um pouco por todo o mundo. Irritantemente estranhos, acrescentaria. Ele é os meios de comunicação a correrem quais baratas tontas atrás de notícias (ou ruído?) sobre o malfadado vírus que se nos declarou. Ele é esses mesmos meios de comunicação a relatarem ou comentarem sobre a matéria uma coisa seguida do seu contrário nos minutos imediatamente seguintes. Ele é os responsáveis políticos a produzirem a metro declarações desprovidas de fundamento credível sobre uma matéria com que se vai vendo afligido um número crescente de cidadãos e relativamente à qual pretendem evidenciar um controlo de situação que manifestamente não possuem. Ele é os colaboradores de empresas e serviços públicos a serem colocados numa espécie pouco lógica de teletrabalho assente numa ineficaz quarentena caseira. Ele é as pessoas vulgares a evitarem quaisquer toques físicos entre si e a cumprimentarem-se com meros e ridículos acenos. Ele é as informações avulsas que nos chegam sobre casos incompreensíveis, como os daquela senhora fechada num quarto de banho de hospital durante horas pela mão de médicos assustados e impotentes. Ele é os anúncios apocalíticos quanto ao que pode acontecer, mesmo que tal possibilidade não corresponda a previsões mas a inimagináveis cenários teóricos. Ele é as reuniões e conferências de todo o tipo a serem adiadas ou mesmo anuladas sine die. Enfim, o mundo parece estar desesperadamente tomado por um demónio que o manipula de um modo simultaneamente apoderador e ligeiro, prudente e impensado, ativo e paralisador – pessoalmente, só sei que nada sei, assim como só sei que posso arrepender-me amanhã do que possa dizer hoje, mas prefiro isso do que embarcar num pânico coletivo que só serve para dar uma mostra terrível de quão frágeis são as sociedades humanas.

(Pierre Kroll, http://www.lesoir.be)

(Patrick Blower, http://www.telegraph.co.uk)

(Klaus Stuttman, http://www.tagesspiegel.de)

(Walt Handelsman, https://www.theadvocate.com)

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