sexta-feira, 20 de março de 2020

PEDRO BARROSO


Alguém me disse um dia que o Pedro era, de entre os cantores de intervenção portugueses, um dos mais destratados por não ter visto suficientemente valorizada a sua magnífica voz e a sua grande versatilidade criativa. Além de ter sido também um dos poucos que não fizeram opções políticas pelo comunismo ortodoxo, ou seja, ele nem apoiou o PCP nem militou no quadro da extrema-esquerda maoísta. Comecei a ouvir o Pedro desde que ele apareceu no nosso “mercado”, em 1976, com “Lutas Velhas Canto Novo”, mas foi no período do meu regresso pós-doutoral a Portugal que mais acompanhei a sua carreira. Destaco os dois discos de longa metragem cujas capas acima reproduzo, “Do Lado de Cá de Mim” (1983) e “Cantos da Borda d’Água” (1984), que ouvi exaustivamente naqueles tempos – e ainda hoje me arrepio ao ouvir “Balada do Desespero” ou “Menina dos Olhos d’Água”, a meu ver as mais fortes faixas de cada um daqueles discos da minha preferência. Com o andar dos anos, passei a acompanhar o trabalho do Pedro com menos regularidade, embora sempre com admiração e a atenção possível. Lembro-me de o ouvir declamar recentemente que “cada um de nós nasce com um artista lá dentro”, o que nele até foi literalmente verdadeiro. O Pedro morreu cedo, já que não chegou a completar 70 anos, mas deixou uma marca indelével na música portuguesa que importa sublinhar e reconhecer.

Sem comentários:

Enviar um comentário