(Os termos são de John Maynard Keynes numa célebre carta
aberta ao Presidente americano Roosevelt, publicada no New York Times em 31 de dezembro de 1933. Regresso frequentemente a este documento crucial pois dificilmente se
encontra uma perspetiva tão clara das relações entre o curto e o longo prazo na
política económica).
Sou dos que penso que
o pós 2007-2008 não está resolvido e que a recuperação macroeconómica que lhe
sucedeu não colocou de novo o capitalismo nos eixos, já para não falar da
urgência de encontrar um modelo de crescimento económico capaz de integrar na
sua equação a emergência climática. Por isso, regresso frequentemente à
interrogação de como combinar recuperação e reforma, por outras palavras, curto
e longo prazo, evolução conjuntural e estrutural.
A carta de Keynes a
Roosevelt (link aqui) é um prodígio de clareza, valendo por hoje apenas um excerto:
“(…) O Senhor
tem uma dupla tarefa, Recuperação e Reforma, a recuperação decorrente da
recessão e a concretização daquelas reformas económicas e sociais que já estão
atrasadas. Para a primeira, velocidade e rapidez são essenciais. A segunda pode
também ser urgente; mas a pressa pode ser injuriosa e a sabedoria dos
propósitos de longo prazo é mais necessária do que a realização imediata. Será
através do aumento do prestígio da sua administração conseguido com o êxito na Recuperação
de curto prazo que obterá a força para levar a cabo a Reforma de longo prazo. Por
outro lado, mesmo uma sábia e necessária Reforma pode em alguns caos impedir e
complicar a Recuperação. Porque pode perturbar a confiança do mundo dos
negócios e enfraquecer os motivos que conduzam à ação, antes de haver tempo
para colocar os outros motivos no seu lugar. E pode sobrecarregar a vossa
máquina burocrática, que o individualismo tradicional americano e o “sistema
dos velhos despojos” não deixaram ninguém demasiado forte. E isso confundirá o seu
pensamento e esperança e a vossa administração criando-lhe demasiadas coisas
para nelas pensar ao mesmo tempo.”
A carta de Keynes
visava sobretudo os que preferiam parar e dar tempo ao tempo para que as forças
de mercado se recompusessem, em detrimento da ação necessária.
Keynes brindava essa
gente, seja no Reino Unido, seja nos EUA, com a classificação de gente “que
acredita que o nariz é um órgão mais nobre do que o cérebro”(who believe that the nose is a nobler organ than the
brain).
Intuição, intuição,
economistas à parte.
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