(A atmosfera única de um restaurante em Estocolmo na passada quarta-feira em imagem do New York Times)
(Alertaram-nos para que as abordagens dos países ao
combate do COVID-19 iriam ser diferenciadas em função da “estratégia” dos
respetivos sistemas de saúde e de traços culturais mais profundos. Com o desfiar do tempo da pandemia, percebemos todavia que o confinamento
de emergência é o dominante. A Suécia permanece um mistério.)
Ainda tenho presentes
as palavras do Professor Henrique Barros, diretor do Instituto de Saúde Pública
da Universidade do Porto, na noite em que o Conselho de Saúde reuniu e deu
origem à decisão de encerramento das Escolas pelo Governo, embora a decisão desse
Conselho tenha apontado para o seu encerramento. Nessas palavras, HB sublinhou
que, para além da necessidade absoluta de garantir a autonomia da decisão política,
por mais e melhor cientificamente fundamentada que seja, iríamos assistir à
emergência de diferentes formas de abordagem à pandemia, em função das
diferentes culturas de interpretação evolutiva das pandemias. Na altura, na comunicação
social portuguesa alertava-se para a opinião reinante no Reino Unido de que a
intervenção mais musculada que Portugal e outros países europeus era prematura
no então estádio de evolução da pandemia. O Professor Henrique Barros referiu
então que conhecia prestigiados epidemiologistas e especialistas de saúde pública
britânicos que poderiam corroborar aqueles alertas e que não existia uma abordagem
única e que só no fim do pesadelo se poderia avaliar qual tinha sido a melhor e
mais eficaz abordagem.
Desde essa noite, os
acontecimentos na Europa precipitaram-se e mesmo o Reino Unido rapidamente
abandonou a abordagem mais distendida numa sequência de correções de decisões
tomadas que colocaram aliás o primeiro-Ministro britânico Boris Johnson numa
posição de grande debilidade (ele também infetado) perante a opinião pública.
Embora com tempos de reação bastante diferentes (circunstância que será crucial
para a memória futura da avaliação da eficácia das abordagens), a verdade é que
as abordagens de emergência mais ou menos musculada se sucederam. Terá prevalecido
o tal entendimento do aplanamento da curva de infeções, atrasando picos mas preservando
os sistemas públicos de saúde da pressão devastadora que a Itália e a Espanha não
conseguiram ainda suster.
No seio desta aparente convergência de
abordagens, a Suécia tem sido um mistério para mim, sobretudo pelo contexto
comparativo bastante impressivo da abordagem sueca face aos países
escandinavos. A Dinamarca, a Noruega e a Finlândia optaram bem cedo por
encerramentos e confinamentos bem musculados, incluindo o encerramento de
fronteiras e do transporte aéreo. A Suécia, porém, optou por uma abordagem bem
mais gradativa, mantendo algumas escolas abertas, não encerrando restaurantes
ou cafés, embora com recomendação de comportamentos rigorosos do ponto de vista
do distanciamento e convivência sociais. O sistema parece estar baseado num
elevado grau de participação voluntária e de um enorme nível de confiança nas
instituições e nas pessoas. E, claro está, em matéria de contacto e distância
social, os suecos têm o modelo de comportamento adequado a uma pandemia desta
natureza. A distância física em relação ao outro é um dado cultural inato e
perfeitamente assumido, o que contrasta com o elevado nível de confiança nos
outros e nas instituições.
Os números mais atualizados que tenho (de
hoje de manhã via John Hopkins University) são os seguintes:
País
|
Nº de infetados
|
Mortes
|
População (2018)
|
Taxa de infeção (permilagem)
|
Taxa de letalidade (%)
|
Noruega
|
4054
|
23
|
5314340
|
0,76
|
0,6
|
Suécia
|
3447
|
105
|
10183170
|
0,34
|
3,0
|
Dinamarca
|
2564
|
72
|
5603000
|
0,46
|
2,8
|
Finlândia
|
1221
|
9
|
5636762
|
0,22
|
0,7
|
Os números da tabela anterior não
Os números da tabela
anterior não permitem ainda inferir
se os suecos irão ou não ser obrigados a uma inversão na sua abordagem. Sem
qualquer pretensão, aliás injustificada dado o nosso modelo de convivência, de
querer estender a abordagem sueca, mesmo assim gostaria que os suecos conseguissem
manter atá ao fim a sua estratégia. É provável que não. Haveremos de confirmar
com o tempo que em Itália e Espanha foram acontecimentos como por exemplo o
Atalanta-Valência em Bergamo que precipitaram o descontrolo. A questão é se
mesmo em países com um modelo de comportamento social rigoroso e de prática quotidiana
da distância social como a Suécia será possível manter o modo de estar em graus
de confinamento mínimo. Já agora um dos únicos modelos que conseguiu combinar a
inovação e a proteção social exemplar poderia ser a exceção do ponto de vista
do confinamento voluntário e respeitador do seu modelo social. Veremos.
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