(Eduardo Estrada para o El País)
(Achei que seria interessante organizar no blogue um
arquivo pessoal de testemunhos interpretativos do período que vivemos, lidos ao
acaso, desfiando o tempo deste isolamento. Não se trata de reunir elementos científicos para uma leitura mais objetiva
e rigorosa dos acontecimentos. São interpretações distintas que me interessam, sobretudo
aquelas que proporcionem leituras sobre a nossa visão do mundo e da convivência
humana)
Começo com duas
referências, apresentadas aqui com pequenos excertos.
A primeira é de Xosé
Luís Barreiro Rivas, cronista da VOZ de GALICIA, um personagem singular da
academia e da política galegas, percurso político heterodoxo tanto quanto
baste, cultura política clássica e uma formação religiosa a toda a prova, adversário
ferrenho da fragmentação política espanhola e não propriamente um apoiante
confesso da solução política que governa a Espanha neste momento difícil:
Uma
civilização com pés de barro
“(…)
Desta situação – diz a jaculatória oficial – sairemos. E inclusivamente vamos
construir – acrescento eu – outra “belle époque” que nos faça esquecer este
pesadelo. Mas já sabemos que os vírus típicos deste tempo estão a começar a
visitar-nos e que por mais arrogantes que nos assumamos continuamos à mercê dos
vírus, do grande tremor de terra, da mudança climática ou do asteroide do qual
não nos podemos desviar. Por isso temos medo. Porque construímos uma
civilização admirável, mas fanfarrona, materialista e inculta. E o que estamos
intuindo é que embora esta falha não nos vá arrasar nem a tecnologia, nem o
sistema sanitário, vai por a descoberto a fanfarronice unidimensional que
enfraqueceu a sociedade, deixando-nos, além do mais, sem horizontes
alternativos.”(link aqui)
A segunda é assinada por um dos grandes
intelectuais do nosso tempo (Jared Diamond, autor do célebre Armas, Germes e
Aço) e o virologista Nathan Wolfe, publicada ontem no El País:
O
comércio de animais selvagens e as pandemias
“(…) Aos ocidentais, isto
parecerá evidente. Como é possível que o todo poderoso Governo chinês, capaz de
confinar milhões de pessoas em poucos dias, não se empenhe em terminar, de
imediato e de uma vez por todas, ao comércio de animais selvagens? Mas estes
produtos, para algumas comunidades chinesas, não são uma mera coisa esquisita. Uma
analogia apropriada seria, provavelmente, pensar o que poderia ocorrer se os
cientistas descobrissem que a venda de queijo ou de vinho está a provocar
epidemias. Como é que os franceses reagiriam se o mundo lhes pedisse que tais
produtos fossem suprimidos? Para algumas populações chinesas, os animais
selvagens constituem uma parte da sua cultura que é mais importante do que o
queijo e o vinho representam para os franceses. Não obstante, pesem embora os
obstáculos culturais, a China e os outros Governos de todo o mundo deveriam
atuar com rapidez e decisão para acabar com esse comércio.” (link aqui)
Ambos
os testemunhos nos remetem afinal para um ponto comum: a tecnologia, por mais
evoluída ou sofisticada que se apresente, quando se posiciona de modo arrogante
face à natureza no sentido mais amplo do termo tende a ser questionada e nem
sempre das formais suaves. O que não significa que se nos desvinculemos do seu
potencial. Ainda há pouco assisti a uma formação WEB da Microsoft sobre o
enorme potencial da plataforma TEAMS para a organização do trabalho
colaborativo.
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