(A leitura do El País on line, para quando o prazer de folhear de novo a edição em papel, que pressupõe uma viagem a Espanha, dá-me o mote para uma reflexão simples em torno dos temas da sustentabilidade. É também uma forma de descansar a mente, pesada com tanta leitura sobre a invasão da Ucrânia. A abordagem da notícia é inesperada, mas corresponde a uma ideia que tenho vindo a trabalhar em posts anteriores. Tem-se afirmado entre nós uma visão da sustentabilidade demasiado afastada dos meandros do nosso quotidiano. É a transição energética, é a transição climática, esta última armadilhada com a aparente sedução de um inverno ameno e com muito sol, questões que obviamente nos têm interpelado, mas não a ponto de nos colocar em reflexão e a pensar afinal o que é que poderemos mudar nas nossas vidas. É aqui que a notícia do El País nos conduz inesperadamente para um domínio em que descarregamos paixão, fúria, alegria e frustração, mas a propósito do qual pensar em sustentabilidade estava fora do cenário. Imaginem, a sustentabilidade no futebol.
O futebol, não sei bem porquê, quando é de boa qualidade, descansa-me. Não sou de ficar horas e horas a fio na poltrona a simular caneladas no adversário. As assinaturas de cabo permitem alguma escolha e, seletivamente, a boa qualidade e empolgamento de alguns jogos têm essa virtude estranha de, em momentos de cansaço de trabalho, descansar o espírito.
Neste contexto de seletividade, tenho seguido alguns emblemas em função do que estão a fazer nas respetivas ligas. É o caso, por exemplo, do Wolverhampton, não só porque é a equipa mais portuguesa da liga inglesa, mas sobretudo porque acho que o Bruno Lage foi maltratado no SLB. É também o caso do Bétis de Sevilha, porque gosto do futebol do Manuel Pellegrini, a ambiência do Benito Villamarín é excelente, a longevidade do extremo à antiga Joaquín Sánchez é um caso de estudo e o nosso William parece renascer da letargia com que tem aparecido na seleção.
Ora, o que estava longe de imaginar é que o Bétis de Sevilha era pioneiro em trazer para o futebol o tema da sustentabilidade. Surpreendidos? Também eu.
O Bétis foi pioneiro, juntamente com o Forest Green Rovers da quarta divisão da Liga Inglesa a participar na iniciativa/programa Climate Neutral Now e a participar ativamente na Cimeira de Madrid de 2019, representando assim a primeira vez em que nula Liga europeia o tema da sustentabilidade é levado a sério.
A notícia do El País dá conta que, no próximo domingo, o Bétis pretende transformar o jogo com o Athletic Club no primeiro jogo para a sustentabilidade. Ou seja, para além dos três pontos que a equipa andaluza irá procurar alcançar, o jogo de domingo tem objetivos de redução de emissões de gases com efeitos de estufa e de produção de resíduos.
Diz o jornal:
“No estádio, estarão disponíveis 10.000 recipientes para depositar os tubos que serão reutilizados como fertilizante e facilitar-se-á também o acesso do público com meios alternativos de transporte ao automóvel, oferecendo descontos para o aluguer de trotinetas, bicicletas e motos elétricas e criando estacionamento próprio para bicicletas e trotinetas. No recinto de jogo, os jogadores vestirão pela primeira vez um equipamento fabricado com materiais recicláveis – que o clube tratará de reconverter no equipamento habitual para o futuro – e serão utilizadas garrafas recicláveis para beber água em vez das típicas recipientes de plástico. Assim será medida a pegada de carbono do jogo”.
O Real Bétis parece querer dar sentido à sua cor de raiz, assumindo-se como um forte defensor do compromisso FOREVER GREEN.
Vale o que vale, mas vem ao encontro do tópico deste post, a sustentabilidade acontece onde quisermos que isso aconteça.
As cores dos protagonistas deste blogue, azul e encarnado, não dão para este sainete simbólico. Talvez o recém-eleito Varandas queira lá para as bandas de AlVALADE continuar a fazer a esquecer as emissões do desvario do Bruno e enveredar também por este compromisso do FOREVER GREEN.
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