quinta-feira, 31 de março de 2022

UMA TRAQUINICE DISPENSÁVEL!

(Luís Afonso, “Bartoon”, https://www.publico.pt)

Uma “traquinice” de Marcelo, assim qualificou Paulo Baldaia a inusitada referência do Presidente, no discurso de posse do Governo, à obrigatória manutenção do primeiro-ministro no poder durante os quatro anos e meio da legislatura que ora se inicia. Criado assim um novo e maléfico “facto político”, como tanto gosta e ademais recorrendo àquela metodologia espertalhaça em que é useiro e vezeiro, Marcelo já voltou hoje ao assunto para procurar manter o tema vivo sob a capa de uma clarificação, afirmando que Costa não é refém dele mas sim “refém do povo português”.

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt

É manifestamente pouco dizer-se que “não havia nexessidade” de uma coisa tão mal engendrada como esta, especialmente no quadro de crise e de alguma instabilidade em que vivemos e no exato momento em que uma legislatura arranca; porque tudo tem o seu tempo e este não era seguramente o tempo próprio para introdução no nosso espaço público de um elemento de perturbação sem jeito nem preceito a qualquer título que se eleja considerar; tanto mais quanto muito pode vir a acontecer nos próximos anos de molde a inviabilizar as hipóteses de Costa na Europa ou a que a situação política e partidária se altere de modo significativo e venha a tornar improcedente aquilo que o Presidente e a maioria dos analistas hoje julgam percecionar como altamente provável. Além de uma nova exibição de um traço de malandrice que a sua carreira política já deixou evidenciar inúmeras vezes, Marcelo veio também mostrar o seu desagrado com a existência de uma maioria absoluta e a sua crescente preocupação com um pós-mandato que, embora ainda estando longe, o aflige a ponto de não se eximir de primarismos (viram os seus recentes discursos em Moçambique?) para sempre ir surgindo numa ribalta que sente estar em gradual rota de perda para o seu lado.

 

Um incidente pouco gratificante, o de ontem, e um tipo de incidente para que a maioria do dito povo já não tem ponta de pachorra. Daí que nada disto tenha a importância que a “espuma do dia” que são as notícias e os comentários lhe vai inapelavelmente conceder; porque só vai mesmo dar para ironias como a de Luís Afonso... O que não significa que Costa não esteja já a preparar a sua resposta ao afrontamento de Marcelo, seja esvaziando o tema por manifesta irrelevância conjuntural e garantindo que ficará até ao fim seja encontrando uma forma mais ou menos inteligente e subtil de retomar a iniciativa a seu favor.

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