quinta-feira, 24 de março de 2022

SOBRE OS QUE SAEM

Foi finalmente conhecida a composição ministerial do novo Governo, não sem que o processo tenha sido acompanhado por um incidente nada abonatório para as duas partes envolvidas: o PR porque amuou, assim pretendendo chamar novamente a atenção sobre si, ele que se pronuncia a destempo sobre tudo e o seu contrário e nas mais controversas circunstâncias; o PM porque a fuga de informação acontecida só pode ter sido proveniente de alguém que lhe é próximo pessoal ou politicamente e, portanto, a mesma é direta ou indiretamente da sua responsabilidade objetiva.

 

Não quero opinar muito a quente, até porque ainda não se conhece o elenco governamental completo (faltam os 38 secretários de Estado), pelo que prefiro aqui deixar uma brevíssima e impressionista pincelada sobre os 11 ministros que abandonam o Governo: (i) Augusto Santos Silva (ASS) sai muito prestigiado e pelo seu pé para ocupar o lugar de segunda figura do Estado; (ii) também pelo seu pé, mas sem deixarem rasto nem saudades por via de qualquer significativa obra feita, saem Alexandra Leitão e Francisca Van Dunem; (iii) ainda pelo seu pé sai João Leão, um ministro das Finanças completamente assético e insensível que cumpriu a sua missão (quer como secretário de Estado quer como ministro) sempre sem chama, com manifesta propensão para gerar antipatia e senhor de um rigor tecnocrático absurdo e sem critério; (iv) num misto de vontade de sair e de empurrão para fora terão estado Manuel Heitor, Tiago Brandão Rodrigues, Nelson de Souza e João Pedro Matos Fernandes, quatro ministros mais falhados do que bem sucedidos, respetivamente pelas suas marcas de uma teimosia obsessiva mais orientada para parcelas do que para o todo, inexperiência e estrita obediência ao Chefe, cinzentismo e burocracia descabelada e engraçadismo como meio de encobrir manifestas lacunas políticas e de política; (v) na mesma linha se poderia classificar Graça Fonseca, apesar de tudo mais combativa e focada, o que não significa sempre capaz de gerir um setor complexo e de fazer as escolhas certas; (vi) afastado por inexistência foi Ricardo Serrão Santos, o ministro do Mar que nunca exerceu; (vii) por último, o enigmático caso de um ministro de Estado e da Economia que parece ter querido transitar para os Negócios Estrangeiros e que acabou de fora sem honra nem glória após uma passagem em que ficou por demais evidente que um advogado de negócios não é tão conhecedor de Economia nem tão fadado para tratar da Economia de um país quanto a sua própria autoavaliação lho indique. De nenhum destes governantes passageiros, talvez com a honrosa exceção de ASS, rezará especialmente a história.

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