quarta-feira, 23 de março de 2022

O GOVERNO

 


(Já não tenho grande pachorra para discutir fugas de informação que podem ter incomodado o Presidente Marcelo, por isso vou passar à frente e cogitar algumas reflexões que serão breves, até porque é verdade que se conhece a estrutura e os ministros (as), mas falta ainda o corpo de Secretários (as) de Estado. Sem me querer alongar muito, poderia resumir assim a minha apreciação: alguns receios, algumas deceções, algumas confirmações em relação ao que pensava, alguma satisfação por não se terem confirmado alguns nomes e a consciência de que só a prática dos governos, mais do que a sua composição, permitirá avaliar se António Costa escolheu bem ou mal.)

Poder-se-ia pensar que a formação de uma maioria absoluta daria a António Costa uma outra margem de manobra para a formação do novo Governo. Nunca acreditei muito nessa possibilidade, até porque se pensarmos, ter um conflito que pode ser mundial sem ainda nos termos domesticado a pandemia assusta qualquer um e talvez não seja tempo para grandes experimentações de equipa. E pelo que se vai conhecendo de António Costa, embora possa dizer-se que o recrutamento político para os Governos está a reduzir-se assustadoramente, tenderia a decidir sempre pela segurança e pela confiança. Podemos questionar mas os eleitores portugueses avaliaram a situação e puderam bem com essas questões. A alternativa seria uma tragédia.

Comecemos pelos receios. Interpreto a escolha de Fernando Medina para o Ministério das Finanças como um exemplo desses receios. Tenho a melhor impressão de Fernando Medina como aluno na FEP, quando foi Secretário de Estado do Emprego e não serão alguns acontecimentos políticos na Câmara de Lisboa e a sua derrota perante Carlos Moedas que me farão mudar de opinião. Mas daí a achar que a sua passagem para o Ministério das Finanças me tranquiliza estaria a enganar-vos. Veremos como vai compor a sua equipa de Secretários de Estado, mas dir-me-ão alguns que o exemplo de João Leão como comparação animará qualquer um. Não esqueçamos porém o desempenho macroeconómico conseguido por João Leão em contexto de pandemia. É muito desafiante pelos resultados alcançados. Medina que se cuide.

Em matéria de deceções, a mais explícita é a que vem associada à continuação da Ministra da Agricultura, demasiado pró-agricultura do Ribatejo e submissa ao pensamento da CAP para meu gosto. Não imagino se terá sido difícil encontrar alternativa ou se foram antes as estruturas partidárias a comandar a manutenção. Talvez como deceção, ainda que de menor grau, a rocambolesca trica na hora do Ministro da Cultura dá que pensar e continua a não haver uma escolha que pudesse galvanizar o setor, não perdendo de vista a ideia de rigor e de equidistância na atribuição de apoios.

No âmbito do que considero pertencer ao domínio das confirmações, três nomes: Elvira Fortunato para a Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, João Costa para a Educação e Ana Abrunhosa para a Coesão Territorial. Os dois primeiros porque correspondiam ao meu palpite. Claro que é pena que Elvira Fortunato interrompa a sua brilhante carreira de cientista, mas espero que a sua equipa seja já robusta e que não perca dinâmica. Quanto a João Costa, quem conhecesse minimamente os dossiers do Ministério perceberia que a sua passagem a Ministro equivaleria a uma continuidade recomendável e a um conhecimento dos principais desafios e tantos eles são. Quanto a Ana Abrunhosa, perdeu-se um pouco no entusiasmo inicial, mas a verdade é que não deixou a coesão territorial cair em saco roto e tem agora no PT 2030 a sua grande oportunidade de mostrar que sabe o que fazer de consequente nesta matéria. Para além disso, a aparente subida na escala do poder de Mariana Vieira da Silva estava escrita nos astros. Todos os sinais de António Costa apontavam para tal.

Em matéria de satisfação pela não confirmação de nomes anunciados pela imaginação doentia de alguns jornalistas ou deixas interesseiras de alguém, o melhor exemplo é a não confirmação de Sobrinho Teixeira para a Ciência e Ensino Superior. E, por outro lado, como grande admirador da sua visão, teria dificuldade em ver Sampaio da Nóvoa acabrunhado e não incomodado pela rigidez da ação ministerial.

A prestação futura de Costa e Silva na Economia e no Mar (a perda de um ministério autónomo para o Mar pode ser paradoxalmente a oportunidade de alguma consequência política positiva para o setor) será uma interrogação, mas estou otimista em relação ao que pode dali resultar. As futuras Ministras da Defesa e da Justiça são também interrogações, mas recordo por exemplo que em Espanha o PSOE tem tido excelentes Ministras da Defesa, recordando a memória da espantosa Carme Chacón. Creio que a capacidade política de Duarte Cordeiro vai acabar por impor-se no Ambiente, sendo agora necessário perceber que nomes irão compor a equipa do Ministério.

Talvez o maior espanto esteja em algumas saídas, sobretudo as que estavam mais próximas de António Costa, com Nélson de Souza e Pedro Siza Vieira à cabeça, mas também Alexandra Leitão.

Chega por hoje.

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