quarta-feira, 16 de março de 2022

ALAIN KRIVINE

Chegou-me algo tardiamente ao conhecimento a morte de Alain Krivine (80 anos). Trata-se de um icónico revolucionário francês que marcou largamente toda uma geração de intelectuais e “comunistas internacionalistas” na Europa e no mundo, logo necessariamente também em Portugal (recordo os tempos profundamente datados da nossa LCI e a expressão desta organização trotskista filiada na Quarta Internacional no quadro da intervenção política e do debate de ideias dos anos 70, contando com figuras que foram precursoras de Francisco Louçã como Francisco Sardo, António Brandão, Adelino Fortunato e Heitor de Sousa, entre vários outros e para só falar dos que me foram de conhecimento mais próximo). Krivine foi militante anticolonial, membro da UEC e dela expulso, figura proeminente do Maio de 68, fundador da LCR e seu militante durante mais de trinta anos, candidato presidencial sem história por duas vezes (destruir a ordem capitalista e redistribuir as riquezas constituía a essência do seu primeiro programa), combatente em nome de causas sociopolíticas tão diversas quanto a luta contra a guerra do Golfo ou uma controversa oposição ao tratado de Maastricht, eurodeputado e um assumido revolucionário jusqu’au bout (tendo ficado como especialmente notada a sua declaração de reforma política no sentido de que “temos muito mais razões para nos revoltarmos dos que em 1968; a barbárie agravou-se; espero um maio 68 que tenha sucesso, um maio 68 com um programa”). Tão coerente quanto pontualmente influente e objetivamente irrelevante em última instância, Krivine viveu a seu modo e cometeu muitos erros de avaliação mas era um homem combativo, preparado e bem-intencionado que acabou por marcar uma época e o posicionamento de muita gente; o que não pode ser escamoteado nem deve ser desvalorizado, afinal.

Sem comentários:

Enviar um comentário