domingo, 6 de março de 2022

NA ESPERANÇA DE QUE A SELVA NÃO COMA O JARDIM

Josep Borrell, o catalão que é o Alto Representante para a Política Externa da União Europeia (na prática, o ministro dos Negócios Estrangeiros da União), deu ontem uma importante entrevista ao “El Mundo”. Os títulos acima reproduzidos dizem o essencial, seja em termos daquilo que reconhece ter sido o arriscado envio de armas para a Ucrânia (“não o fazer teria sido um erro histórico”) ou de uma reafirmação quanto ao facto de o Ocidente ter desde sempre assumido a estratégia de que não iria intervir militarmente na Ucrânia (“isso seria a Terceira Guerra Mundial”), para além de também vir sustentar uma relativa novidade segundo a qual deve ser a China a principal mediadora das negociações com a Rússia. Dito isto, uma encruzilhada de mãos largamente atadas parece permanecer como aspeto dominante do lado ocidental; na realidade, ao não mais visarem do que deter a agressão do expansionismo russo, as potências aliadas adotam uma lógica defensiva justa mas perigosa na medida em que a mesma redunda num esforçado e insano calculismo que a cada minuto permita manter a firmeza necessária e simultaneamente evitar um entendimento “putiniano” sobre os pretextos que lhe validarão um alegado qualificativo de provocação correspondente a uma declaração de guerra. Uma autêntica situação de catch-22 que poderá acabar por conduzir ― Deus nos proteja! ― a revisões significativas da ideia de “erro histórico” ou da definição supostamente justificativa do despoletar de um conflito global generalizado.


(Klaus Stuttman, http://www.tagesspiegel.de)

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