domingo, 6 de março de 2022

DEZ DIAS QUE ABALARAM O MUNDO

Estamos de novo perante uma complexa situação aproximativamente definível com recurso ao emblemático título da obra que John Reed escreveu para relato da revolução bolchevique russa de 1917 que acabaria por marcar grande parte do século XX ― “Dez dias que abalaram o mundo”. Porque também estes dias atuais têm tudo para indiciarem abalos determinantes no mundo que lhes era preexistente, quiçá mais do que isso poderão assinalar a grande mudança geopolítica e geoeconómica da ordem internacional que vigorou desde o final da guerra fria até ao início dos anos 20 do século XXI. Dias terríveis, sem dúvida, estes em que um Impiedoso tirano se decidiu unilateralmente pela destruição de um país cujo grande pecado reside numa férrea vontade de preservação nacional e vivência democrática. Dias terríveis, ainda, pela fundada especulação a que vamos assistindo em relação às reais pretensões do ditador e à existência ou não de limites para a sua ostentação descontrolada de poder absoluto. Dias que justificam também recolhas para memória futura, como a das parangonas mais chamativas e assustadoras ou a das capas das revistas que se publicam nos grandes países europeus do eixo Londres-Berlim-Paris. Por fim, dias em que até os pasquins nos conseguem trazer alguma esperança e dias em que ainda nos pode sobrar espaço para algum humor mais ou menos negro (no caso, em torno do conceito de desnazificação segundo Putin, de comparações entre o merecido bom acolhimento que tem sido dado aos refugiados ucranianos e aquele que foi negado a boa parte de sírios e afegãos ou até dos “bons velhos tempos” dos confinamentos pandémicos). Uma palavra final para a espantosa avalanche de notícias e análises de qualidade em torno do tema do momento, aproveitando eu para aqui chamar a atenção para os textos publicadas na “The Atlantic”, designadamente os assinados pela excelente Anne Applebaum (um deles foi traduzido na Revista do Expresso desta semana com o seguinte e apelativo subtítulo: “o caminho da Ucrânia rumo à democracia tornou-se uma ameaça intolerável para o desígnio imperial de Vladimir Putin”). Glória à resistência ucraniana!




(Ricardo Martínez, http://www.elmundo.es)

(Nicolas Vadot, http://www.levif.be)

(Patrick Blower, https://www.telegraph.co.uk)

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