Nestes dias de arrasamento maciço que as tropas russas têm levado a cabo na Ucrânia, muitos têm sido aqueles que vão reconhecendo similitudes com a já longínqua incursão de Putin na Chechénia (transformando uma cidade belíssima como era Grozni na “cidade mais destruída do mundo”) ou a sua mais próxima incursão na Síria para ajudar Bashar al-Assad (reduzindo a ruínas a cidade de Alepo, uma das cidades mais antigas do mundo), no tocante a um método de intervenção comum, feito de bombardeamentos intensos e indiscriminados, acordos de cessar-fogo não respeitados e cercos a cidades. Quase parece mal escolher Mariupol como a “cidade-mártir” da invasão ucraniana, tal é a generalizada saga de aniquilação a que diariamente vamos assistindo em variadíssimas cidades ucranianas, mas um consenso parece formar-se quanto à especial violência vingativa ali em curso (decerto pela localização estratégica da cidade em relação ao controlo do Mar de Azov e pela sua relevância económica por via da indústria de construção naval, mas sobretudo porque havia também contas a ajustar com Mariupol, associadas a combates recentes e traumáticos em torno da sua opção ucraniana na disputa por Donetsk). O “Público” de ontem chega mesmo a referir-se a Mariupol como estando “à beira de ser a nova Guernica”, o que dispensa quaisquer outros comentários quanto aos caminhos do criminoso Putin e à imperdoável cumplicidade de uma ainda muito significativa parte da chamada comunidade internacional (da China à Índia, pelo seu peso geopolítico e pela sua dimensão populacional e económica, pois claro, mas também de Angola a Moçambique, este um país por onde se voltou a passear impavidamente o nosso Presidente Marcelo). Desesperante esta nossa remissão a um papel de observadores dos sofrimentos de uma guerra em direto e de cidadãos de um mundo que se vê forçado a assim tolerar atrocidades sem nome.
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