domingo, 10 de fevereiro de 2013

CONTRADIÇÕES E CONFUSÕES EUROPEIAS



Os resultados da cimeira de chefes de estado e de governo da União Europeia para aprovação do malfadado orçamento comunitário foram lapidarmente resumidos pelo jornalista Claudi Pérez do El País quando ontem escrevia que “a Europa segue empenhada em tratar uma pneumonia como se tratasse de um simples resfriado”. É perfeitamente patético percorrer as declarações de alguns líderes europeus, atarefados e zelosos em explicitar ganhos líquidos face às expectativas iniciais ou, em certos casos, as perdas líquidas menos gravosas do que o esperado. Não é fácil identificar na imprensa internacional reações de líderes de outras paragens como os países escandinavos, o que daria certamente uma visão mais matizada do pós-cimeira, enquanto que a batalha do Parlamento Europeu estará já ao rubro.
O problema não é tanto o de avaliar se o orçamento é magro ou robusto. Certamente que a tecnoestrutura de Bruxelas tem um vasto campo de economias de eficiência à sua disposição e que poderia custar bem menos do que atualmente custa. A questão é que não se vislumbra nada de consistente quanto à abordagem dos dois problemas centrais que continuarão a pesar na instabilidade recessiva: o desemprego estrutural e diferimento perigoso de uma recuperação consistente. A contradição parece evidente: por um lado, reclama-se mais união política, mais Europa, como única forma (discutível) de superar as contradições atuais; por outro, cede-se à pressão de Cameron, que afinal não tem efetivamente nada que mostrar em termos dos pretensos efeitos benéficos de persistir na consolidação fiscal com taxas de juro praticamente nulas.
Entretanto, a forte apreciação do Euro face ao dólar e a um conjunto de outras moedas (cerca de 11% nos últimos 6 meses) é apresentada pelo The Economist como uma vitória de Pirro, dados os efeitos penalizadores que essa apreciação tende a provocar nos esforços de recuperação por via das exportações, o que não é despiciendo para países sujeitos a processos de consolidação fiscal. Um prolongamento excessivo destes efeitos penalizadores pode inviabilizar em absoluto a condicionalidade imposta pelo BCE para poder continuar a intervir no mercado da dívida pública. Penalizadas por um euro em apreciação, as exportações desses países tardarão em contribuir para uma recuperação mais rápida e sem essas perspetivas de crescimento não há condicionalidade que resista. Este caso ilustra exemplarmente as contradições que atravessam o projeto europeu. Os ganhos de confiança no Euro podem ser contraditórios com a necessidade de precipitar definitivamente a recuperação, sobretudo quando a chicane orçamental continua a ignorar o essencial para única e exclusiva muleta política de Cameron e Merkel.

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