Os resultados da cimeira de
chefes de estado e de governo da União Europeia para aprovação do malfadado
orçamento comunitário foram lapidarmente resumidos pelo jornalista Claudi Pérez
do El País quando ontem escrevia que “a Europa segue empenhada em tratar uma pneumonia como se
tratasse de um simples resfriado”. É perfeitamente patético
percorrer as declarações de alguns líderes europeus, atarefados e zelosos em
explicitar ganhos líquidos face às expectativas iniciais ou, em certos casos, as
perdas líquidas menos gravosas do que o esperado. Não é fácil identificar na
imprensa internacional reações de líderes de outras paragens como os países
escandinavos, o que daria certamente uma visão mais matizada do pós-cimeira,
enquanto que a batalha do Parlamento Europeu estará já ao rubro.
O problema não é tanto o de
avaliar se o orçamento é magro ou robusto. Certamente que a tecnoestrutura de
Bruxelas tem um vasto campo de economias de eficiência à sua disposição e que
poderia custar bem menos do que atualmente custa. A questão é que não se
vislumbra nada de consistente quanto à abordagem dos dois problemas centrais
que continuarão a pesar na instabilidade recessiva: o desemprego estrutural e
diferimento perigoso de uma recuperação consistente. A contradição parece
evidente: por um lado, reclama-se mais união política, mais Europa, como única
forma (discutível) de superar as contradições atuais; por outro, cede-se à
pressão de Cameron, que afinal não tem efetivamente nada que mostrar em termos
dos pretensos efeitos benéficos de persistir na consolidação fiscal com taxas
de juro praticamente nulas.
Entretanto, a forte apreciação
do Euro face ao dólar e a um conjunto de outras moedas (cerca de 11% nos últimos
6 meses) é apresentada pelo The Economist
como uma vitória de Pirro, dados os efeitos penalizadores que essa apreciação
tende a provocar nos esforços de recuperação por via das exportações, o que não
é despiciendo para países sujeitos a processos de consolidação fiscal. Um
prolongamento excessivo destes efeitos penalizadores pode inviabilizar em
absoluto a condicionalidade imposta pelo BCE para poder continuar a intervir no
mercado da dívida pública. Penalizadas por um euro em apreciação, as exportações
desses países tardarão em contribuir para uma recuperação mais rápida e sem
essas perspetivas de crescimento não há condicionalidade que resista. Este caso
ilustra exemplarmente as contradições que atravessam o projeto europeu. Os
ganhos de confiança no Euro podem ser contraditórios com a necessidade de
precipitar definitivamente a recuperação, sobretudo quando a chicane orçamental
continua a ignorar o essencial para única e exclusiva muleta política de
Cameron e Merkel.
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