sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

FARSA E TRAGÉDIA



A afirmação de Passos Coelho, hoje no Parlamento, em resposta à acusação de António José Seguro “de ser a maior tragédia deste país”, merece citação: “O que estou a fazer à frente deste Governo é reparar a maior tragédia que aconteceu em Portugal, ao longo dos últimos 10 anos. Se o senhor deputado pensa que, apelando à minha consciência, pode lavar a sua responsabilidade e a que o PS tem na situação que o país vive, está muito enganado, pois não me deixo condicionar”.
A situação resume-se nesta simples expressão: a tragédia virou farsa.
Numa semana em que a economia portuguesa cai num abismo anunciado, o iluminado primeiro-ministro tem a visão de estar a reparar a pressuposta maior tragédia da década. A indiferença com que se aceita que a taxa de desemprego estrutural de referência para os próximos tempos se situa em torno dos 14%, ou seja próxima da taxa de desemprego estatisticamente observada, e uma taxa de desemprego juvenil de 40% representa o grau zero da política.
Mas a farsa anuncia também uma tragédia. Perante este grau zero da política, o que o PS consegue de melhor é um Documento de Coimbra, designação em si pouco entusiasmante. Por muito que António Costa se esforce, a primeira parte do Quadratura do Círculo foi penosa. A implacável crítica política das ambiguidades e temores do PS perante o espectro da governação por parte de José Pacheco Pereira só teve paralelo nos últimos dias com a lucidez violenta da expressão de Adriano Moreira, segundo a qual a fome não é um dever constitucional.
Farsa e tragédia vão de par.

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