A afirmação de Passos
Coelho, hoje no Parlamento, em resposta à acusação de António José Seguro “de
ser a maior tragédia deste país”,
merece citação: “O que estou a fazer à frente deste Governo é reparar a maior tragédia que aconteceu em Portugal, ao
longo dos últimos 10 anos. Se o senhor deputado pensa que, apelando à minha
consciência, pode lavar a sua responsabilidade e a que o PS tem na situação que
o país vive, está muito enganado, pois não me deixo condicionar”.
A situação resume-se nesta
simples expressão: a tragédia virou farsa.
Numa semana em que a
economia portuguesa cai num abismo anunciado, o iluminado primeiro-ministro tem
a visão de estar a reparar a pressuposta maior tragédia da década. A
indiferença com que se aceita que a taxa de desemprego estrutural de referência
para os próximos tempos se situa em torno dos 14%, ou seja próxima da taxa de
desemprego estatisticamente observada, e uma taxa de desemprego juvenil de 40%
representa o grau zero da política.
Mas a farsa anuncia também
uma tragédia. Perante este grau zero da política, o que o PS consegue de melhor
é um Documento de Coimbra, designação em si pouco entusiasmante. Por muito que António Costa se esforce, a
primeira parte do Quadratura do Círculo foi penosa. A implacável crítica política
das ambiguidades e temores do PS perante o espectro da governação por parte de
José Pacheco Pereira só teve paralelo nos últimos dias com a lucidez violenta
da expressão de Adriano Moreira, segundo a qual a fome não é um dever
constitucional.
Farsa e tragédia vão de par.
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