Quem ande pelas ruas deste país não pode deixar de sentir o súbito
surgimento do “homem novo” que Gaspar e Passos redentoramente prometeram. Já
não há bica nem jornal que escapem ao papelito probatório, se necessário com o
nome do cidadão e o respetivo número de identificação fiscal. Mas, enquanto as
empresas de celulose e pasta para papel ou as de máquinas registadoras e
software agradecem reconhecidas mais este relevante contributo para o seu
volume de negócios, o homem da rua e o comerciante mostram-se pasmados com tão
acéfalo acesso de legalidade e lá vão explicando, conformadamente
inconformados, quanto ele é burocrático, inútil e discriminatório. Ou seja,
quanto ele significa em termos de manifesta exibição de desrespeito e abuso por
parte de alguns génios poderosos que, agindo em nome de um liberalismo interpretado
de modo muito próprio, levam ao limite o “Estado no seu pior”!
Não querendo elaborar muito mais nesta matéria ou similar – e os
exemplos brotam como cogumelos! –, juntarei apenas que por estes dias me
apercebi melhor do arrepiante absurdo da chamada questão dos duodécimos.
Nascida algures na decorrência daquela ideia peregrina da TSU que assaltou os mesmos
crânios governativos no ano transato, vejamos quanto a mesma também não tem
ponta por onde se lhe pegue: as empresas privadas estão a ser confrontadas com
a necessidade de se ajustarem a uma decisão dos seus colaboradores – apenas
válida para 2013 – quanto ao eventual pagamento em duodécimos de metade dos
subsídios de férias e de Natal, sendo que as outras metades permanecem devidas
nos momentos habituais. Ou seja, nem se trata de cumprir um objetivo
(discutível mas legítimo) de aliviar a tesouraria das empresas por via de uma
integração definitiva dos subsídios no salário mensal nem se trata de uma regra
dirigida a facilitar a vida interna das empresas, já que os seus procedimentos
de processamento salarial se tornam agora necessariamente mais complexos para poderem
corresponder às diferentes modalidades remuneratórias.
Eis, pois, um Portugal híper-renovado! Onde tudo é mais
provisório, mais aleatório, mais enredado…
Sem comentários:
Enviar um comentário