(Lord Adair Turner)
Neste mês de fevereiro,
emergiu nos blogues económicos mais especializados e no Financial Times um
debate importante que poderíamos situar no interior do monetarismo - o conjunto
de teses que defende a primazia da utilização de instrumentos de política monetária,
tais como a oferta de moeda, como meios de estabilização económica e
financeira.
Não se trata propriamente de
um cisma no monetarismo, de uma divisão irreversível. Mas trata-se de um debate
com profundas implicações para a política económica e monetária atual, como não
podia deixar de ser impulsionado pela incapacidade dos países mais avançados
coordenarem uma resposta consequente à recuperação mais adiada dos últimos 30 a
40 anos.
As duas posições em
confronto podem reconduzir-se a dois modelos distintos de intervenção:
- O chamado “quantitative easing”, praticado essencialmente pelo Banco da Reserva Federal americano, que representa uma forma de financiamento temporário dos défices públicos, concretizado essencialmente por via de títulos da dívida pública adquiridos no mercado livre pelo banco central, posteriormente vendidos ao setor privado;
- O financiamento monetário aberto dos défices públicos concretizado através de emissão monetária, que se distingue do primeiro sobretudo pelo facto de não implicar a emergência de poupança privada para financiar o défice público, com maiores riscos de inflação (por vezes também designado de “Helicopter Money”).
A segunda das modalidades
tem sido considerada uma heresia no campo monetarista. O debate agora suscitado
sobretudo pelas posições de Lord Turner, Presidente da Financial Services Authority do Reino Unido e Professor na prestigiada
Cass Business School tem sobretudo uma grande aplicabilidade ao caso da economia
britânica e é nesse contexto que o debate tem de ser inicialmente compreendido.
Mas limitar esse debate ao contexto da economia britânica é redutor. Admitir a
hipótese de emissão monetária para financiamento aberto de défices públicos e não
atribuir-lhe um risco inflacionário superior ao de outras modalidades de intervenção
abre novos horizontes à política monetária. Quer isso significar que o chamado “Helicopter Money” pode ser utilizado
para financiar um vasto programa de modernização infraestrutural, por exemplo.
A questão exige mais atenção
e novos posts terão de ser dedicados a
esta questão. Mas pode perguntar-se porquê só agora o monetarismo se abre a
este debate? A razão parece-me óbvia. A inépcia das respostas à adiada
recuperação justifica que até entre os monetaristas haja hoje interrogações.
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