sábado, 9 de fevereiro de 2013

O (IN) SEGURO COSTA



Pedro Adão e Silva assina hoje no Expresso um pequeno artigo que considero essencial para compreender a insegurança que um político aparentemente tão seguro e confiante como António Costa tem revelado nesta aceleração do tempo político do PS.
Intitulado “A revolta dos Paradas” (o que nos remete para as candidaturas à Câmara Municipal de Matosinhos), os “paradas” (a letra pequena é acintosamente deliberada) representam simbolicamente os que asseguram a chegada de resmas e resmas de novos militantes aos partidos. De certa maneira, são aqueles que em momentos determinados pagam quotas em atraso de conjuntos alargados de militantes e que se constituem em verdadeiros sindicatos de voto, alinhando espingardas e contando-as ao milímetro. Pedro Adão e Silva é lapidarmente assertivo: “É claro que houve sempre Paradas. A diferença é que, hoje, têm uma ambição que não tinham – passaram a alimentar o sonho de serem ministros – e, mais importante, é em seu redor que gravita o essencial do poder nos partidos”.
A minha experiência destas coisas resume-se a ter assistido ao drama dos “paradas” após uma derrota, mais propriamente da “entourage” que girava no Porto em torno de Fernando Gomes, depois de ter sido batido eleitoralmente por Rui Rio. Posso-lhes dizer que já nesse momento compreendi a importância dos “paradas” e os seus dramas quando tudo se precipita em direção ao vazio.
Mas o que é que tudo isto tem que ver com a (in) segurança de António Costa? Marcelo Rebelo de Sousa usa frequentemente a expressão em relação aos líderes partidários, efetivos ou potenciais, de falar para dentro (para o interior do partido) ou falar para fora (para a sociedade portuguesa). Esta distinção aplica-se como uma luva ao exercício de equilíbrio no arame que António Costa está neste momento a desenvolver. O capital político de Costa é incomensuravelmente mais elevado quando fala para fora do que quando fala para dentro. Escrevo sem qualquer informação sobre o que estará a ser a discussão entre Seguro e Costa. Temo que o que sairá desse exercício seja uma mistura algo insípida que será sempre desfavorável a Costa e não a Seguro. Entendamo-nos. Se nos ativermos ao “falar para fora”, foi a António Costa e não a Seguro que temos ouvido uma antecipação consistente de algo parecido com uma alternativa de governação. No discurso de António Costa pressente-se uma ideia de integração/mobilização de diferentes instrumentos de política pública e de governação. A sua leitura da interação entre os fatores nacionais da crise e da inépcia europeia é consistente, o que é um bom ponto de partida para uma alternativa de governação. Paradoxalmente, pressente-se que Costa é capaz de fazer uma crítica mais aberta do que foi a liderança de Sócrates do que Seguro o fará. A alternativa de Seguro é tão abstrata que corre o risco de ser entendida como vazia e talvez isso explique alguma da resistência que uma maioria tão desgastada tem evidenciado em termos de sondagens. Apesar de tudo isto, Seguro parece ter a situação controlada, não sabemos por quanto tempo.
Porquê?
Essencialmente, porque no falar para dentro a grande maioria dos militantes, designadamente os mais recém-chegados e os mais próximos, digamos os “paradas de primeira” estarão num cálculo de expectativas. Entre as promessas, abraços e reuniões que Seguro terá urdido durante todo este longo tempo de maturação e a relevância de Costa no falar para fora, as primeiras tenderão a pesar mais, pelo menos enquanto Seguro não der parte de fraco e revelar ser capaz de cumprir esses compromissos. Mas os “paradas” revelam geralmente uma capacidade de olfato político digna de um “expert”. São gente que antecipam à distância e nos mais ínfimos pormenores as alterações das relações de força. Seguro que se cuide, porque as expectativas geradas pelo olfato político são similares às dos mercados: quando os agentes antecipam uma descida ou subida de qualquer coisa, regra geral essa tal coisa acaba por ocorrer.

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