Pedro Adão e Silva assina hoje
no Expresso um pequeno artigo que considero essencial para compreender a
insegurança que um político aparentemente tão seguro e confiante como António
Costa tem revelado nesta aceleração do tempo político do PS.
Intitulado “A revolta dos
Paradas” (o que nos remete para as candidaturas à Câmara Municipal de
Matosinhos), os “paradas” (a letra pequena é acintosamente deliberada)
representam simbolicamente os que asseguram a chegada de resmas e resmas de
novos militantes aos partidos. De certa maneira, são aqueles que em momentos
determinados pagam quotas em atraso de conjuntos alargados de militantes e que
se constituem em verdadeiros sindicatos de voto, alinhando espingardas e
contando-as ao milímetro. Pedro Adão e Silva é lapidarmente assertivo: “É claro
que houve sempre Paradas. A diferença é que, hoje, têm uma ambição que não
tinham – passaram a alimentar o sonho de serem ministros – e, mais importante, é
em seu redor que gravita o essencial do poder nos partidos”.
A minha experiência destas
coisas resume-se a ter assistido ao drama dos “paradas” após uma derrota, mais
propriamente da “entourage” que girava no Porto em torno de Fernando Gomes,
depois de ter sido batido eleitoralmente por Rui Rio. Posso-lhes dizer que já
nesse momento compreendi a importância dos “paradas” e os seus dramas quando
tudo se precipita em direção ao vazio.
Mas o que é que tudo isto
tem que ver com a (in) segurança de António Costa? Marcelo Rebelo de Sousa usa
frequentemente a expressão em relação aos líderes partidários, efetivos ou
potenciais, de falar para dentro (para o interior do partido) ou falar para
fora (para a sociedade portuguesa). Esta distinção aplica-se como uma luva ao exercício
de equilíbrio no arame que António Costa está neste momento a desenvolver. O
capital político de Costa é incomensuravelmente mais elevado quando fala para
fora do que quando fala para dentro. Escrevo sem qualquer informação sobre o
que estará a ser a discussão entre Seguro e Costa. Temo que o que sairá desse
exercício seja uma mistura algo insípida que será sempre desfavorável a Costa e
não a Seguro. Entendamo-nos. Se nos ativermos ao “falar para fora”, foi a António
Costa e não a Seguro que temos ouvido uma antecipação consistente de algo
parecido com uma alternativa de governação. No discurso de António Costa
pressente-se uma ideia de integração/mobilização de diferentes instrumentos de
política pública e de governação. A sua leitura da interação entre os fatores
nacionais da crise e da inépcia europeia é consistente, o que é um bom ponto de
partida para uma alternativa de governação. Paradoxalmente, pressente-se que Costa
é capaz de fazer uma crítica mais aberta do que foi a liderança de Sócrates do
que Seguro o fará. A alternativa de Seguro é tão abstrata que corre o risco de
ser entendida como vazia e talvez isso explique alguma da resistência que uma maioria
tão desgastada tem evidenciado em termos de sondagens. Apesar de tudo isto,
Seguro parece ter a situação controlada, não sabemos por quanto tempo.
Porquê?
Essencialmente, porque no
falar para dentro a grande maioria dos militantes, designadamente os mais recém-chegados
e os mais próximos, digamos os “paradas de primeira” estarão num cálculo de
expectativas. Entre as promessas, abraços e reuniões que Seguro terá urdido
durante todo este longo tempo de maturação e a relevância de Costa no falar
para fora, as primeiras tenderão a pesar mais, pelo menos enquanto Seguro não
der parte de fraco e revelar ser capaz de cumprir esses compromissos. Mas os “paradas”
revelam geralmente uma capacidade de olfato político digna de um “expert”. São gente que antecipam à distância
e nos mais ínfimos pormenores as alterações das relações de força. Seguro que
se cuide, porque as expectativas geradas pelo olfato político são similares às
dos mercados: quando os agentes antecipam uma descida ou subida de qualquer
coisa, regra geral essa tal coisa acaba por ocorrer.
Parece-me promissor...
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