Foi recentemente noticiado o lançamento, a partir do interior do
Bloco de Esquerda, da chamada “Plataforma Política Socialismo”. Segundo os seus
três principais promotores – Francisco Louçã, João Semedo e José Manuel Pureza –,
ter-se-ão esgotado as virtualidades da estrutura que originariamente (1999) aproximou
três partidos políticos referenciados como de extrema-esquerda: a UDP (de
tendência marxista-leninista), o PSR (de tendência trotskista) e a Política XXI
(de tendência comunista renovadora). Apesar de essa aproximação ter sido sempre
mantida altamente enigmática nos seus contornos ideológicos centrais – como se conciliaram
cartilhas, princípios e objetivos antes tão violentamente proclamados como
antagónicos, sejam eles os da revolução versus reforma ou os do maoismo versus
trotskismo? – e de dela não terem entretanto resultado clarificações significativamente
visíveis.
Agora, dizem, é tempo de juntar todas as “correntes” por forma a
abrir um “novo ciclo” que capacite o Bloco para o desempenho ativo de um papel que
muitos já antes ambicionaram e nunca lograram concretizar: a criação de um “verdadeiro
partido socialista”. Primeiro, e ao que se vai sabendo, há o desconforto de Luís
Fazenda e de alguns camaradas do PCP(R), o qual parece desde logo indiciar um
rombo na própria unidade pretendida. Depois, há a velha questão do
voluntarismo: uma “coluna vertebral” não se transplanta sem dor nem com atos de
fé, antes exige sofisticados testes de compatibilidade, no caso um árduo processo de interiorização e credibilização externa – quem
sempre se posicionou num quadro de utopia, fratura e protesto não vira “partido
de massas” e “alternativa de poder” só porque sim ou porque se decreta que a
realidade mudou. Por último, há ainda as dificuldades que julgo que irão emergir
da dita realidade sociológica, nomeadamente de expressões provenientes de um
eleitorado mais jovem e radical do que estabelecido e acomodado.
Ou muito me engano ou não haverá grande futuro na atração fácil pelo
ilusório sucesso do Syriza grego nem na convicção, igualmente fácil, numa perda
e desagregação do PS (por muito que afastado possa estar ou agir em relação aos
seus valores fundadores). A coisa, isto é, qualquer federação que se queira
sustentada do descontentamento e da indignação que grassam pelo País será bem
mais complexa e trabalhosa e não dimanará de vanguardas, mesmo que bem-intencionadas…
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