terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

SOCIALISMO UTÓPICO?

 
Foi recentemente noticiado o lançamento, a partir do interior do Bloco de Esquerda, da chamada “Plataforma Política Socialismo”. Segundo os seus três principais promotores – Francisco Louçã, João Semedo e José Manuel Pureza –, ter-se-ão esgotado as virtualidades da estrutura que originariamente (1999) aproximou três partidos políticos referenciados como de extrema-esquerda: a UDP (de tendência marxista-leninista), o PSR (de tendência trotskista) e a Política XXI (de tendência comunista renovadora). Apesar de essa aproximação ter sido sempre mantida altamente enigmática nos seus contornos ideológicos centrais – como se conciliaram cartilhas, princípios e objetivos antes tão violentamente proclamados como antagónicos, sejam eles os da revolução versus reforma ou os do maoismo versus trotskismo? – e de dela não terem entretanto resultado clarificações significativamente visíveis.
 
Agora, dizem, é tempo de juntar todas as “correntes” por forma a abrir um “novo ciclo” que capacite o Bloco para o desempenho ativo de um papel que muitos já antes ambicionaram e nunca lograram concretizar: a criação de um “verdadeiro partido socialista”. Primeiro, e ao que se vai sabendo, há o desconforto de Luís Fazenda e de alguns camaradas do PCP(R), o qual parece desde logo indiciar um rombo na própria unidade pretendida. Depois, há a velha questão do voluntarismo: uma “coluna vertebral” não se transplanta sem dor nem com atos de fé, antes exige sofisticados testes de compatibilidade, no caso um árduo processo de interiorização e credibilização externa – quem sempre se posicionou num quadro de utopia, fratura e protesto não vira “partido de massas” e “alternativa de poder” só porque sim ou porque se decreta que a realidade mudou. Por último, há ainda as dificuldades que julgo que irão emergir da dita realidade sociológica, nomeadamente de expressões provenientes de um eleitorado mais jovem e radical do que estabelecido e acomodado.
 
Ou muito me engano ou não haverá grande futuro na atração fácil pelo ilusório sucesso do Syriza grego nem na convicção, igualmente fácil, numa perda e desagregação do PS (por muito que afastado possa estar ou agir em relação aos seus valores fundadores). A coisa, isto é, qualquer federação que se queira sustentada do descontentamento e da indignação que grassam pelo País será bem mais complexa e trabalhosa e não dimanará de vanguardas, mesmo que bem-intencionadas…

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