quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

UM GRÁFICO PERTURBADOR



Os números do desemprego combinados com a informação do INE respeitante ao agravamento recessivo da economia portuguesa no último trimestre de 2012 exigirão mais atenção em futuros posts. Parece pois paradoxal que dedique a reflexão de hoje a um gráfico perturbador, mas não diretamente relacionado com o desemprego. É que da sua interpretação resultam perspetivas bem negras quanto ao potencial futuro de absorção da massa de desempregados sobre a qual a maioria governamental perdeu definitivamente o controlo.
Nos últimos dias trabalhei uma publicação já não muito recente do CEDEFOP–European Centre for the Development of Vocational Training, Skills supply and demand in Europe, datado de 2010. Trata-se de um trabalho, como muitos, de alcance prospetivo com o mesmo horizonte da estratégia Europa 2020, centrado sobre o matching entre oferta e procura de qualificações. Esta abordagem do matching é pouco estimada em Portugal, onde tem persistido uma lógica fortemente enviesada a favor da oferta de qualificações.
Mas o gráfico que despertou a minha atenção (que abre este post) cruza a situação dos países europeus em 2010 em matéria do peso das médias e altas qualificações na população ativa com as perspetivas de evolução dessa variável até 2020.
A situação portuguesa estimada pelo indicador do CEDEFOP é trágica e, combinada com os dados mais recentes do desemprego, é tenebrosa. Portugal situa-se no pior quadrante possível: baixo nível de médias e altas qualificações e fraca dinâmica de variação das mesmas. Admito que esta informação possa exigir alguma pormenorização e aprofundamento. Mas trata-se de um indicador publicado por uma instituição europeia, logo exigindo acompanhamento e monitorização por parte do governo e administração pública. Aliás, é visível a inépcia governamental no interface educação-formação, muito potenciada por um erro de casting dos mais salientes deste governo com a escolha do agora substituído Secretário de Estado do Emprego.
A situação em matéria de altas qualificações não é substancialmente diferente, embora aqui Portugal tenha mais companhias no quadrante do desespero.
A tragédia destes dados está no facto de podermos antecipar que uma grande parte dos desempregados hoje existentes não estará em condições de ser absorvida e recuperada acaso a economia portuguesa evolua para uma estrutura produtiva mais intensiva em qualificações.
Tudo isto mostra a agenda política da melhoria das qualificações precisa de ser revitalizada. Neste período de programa, esta agenda foi assumida como um projeto de modernização inclusiva e é disso mesmo que se trata. Não há modernização inclusiva da sociedade portuguesa que não passe pela fuga ao quadrante do desespero, ou seja pela melhoria das qualificações.

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