Os números do desemprego
combinados com a informação do INE respeitante ao agravamento recessivo da
economia portuguesa no último trimestre de 2012 exigirão mais atenção em
futuros posts. Parece pois paradoxal
que dedique a reflexão de hoje a um gráfico perturbador, mas não diretamente
relacionado com o desemprego. É que da sua interpretação resultam perspetivas
bem negras quanto ao potencial futuro de absorção da massa de desempregados
sobre a qual a maioria governamental perdeu definitivamente o controlo.
Nos últimos dias trabalhei
uma publicação já não muito recente do CEDEFOP–European Centre for the Development of Vocational Training, Skills supply and demand in Europe, datado de 2010. Trata-se de um trabalho, como muitos, de alcance prospetivo com
o mesmo horizonte da estratégia Europa 2020, centrado sobre o matching entre oferta e procura de
qualificações. Esta abordagem do matching
é pouco estimada em Portugal, onde tem persistido uma lógica fortemente enviesada
a favor da oferta de qualificações.
Mas o gráfico que despertou
a minha atenção (que abre este post)
cruza a situação dos países europeus em 2010 em matéria do peso das médias e
altas qualificações na população ativa com as perspetivas de evolução dessa
variável até 2020.
A situação portuguesa
estimada pelo indicador do CEDEFOP é trágica e, combinada com os dados mais
recentes do desemprego, é tenebrosa. Portugal situa-se no pior quadrante possível:
baixo nível de médias e altas qualificações e fraca dinâmica de variação das
mesmas. Admito que esta informação possa exigir alguma pormenorização e
aprofundamento. Mas trata-se de um indicador publicado por uma instituição
europeia, logo exigindo acompanhamento e monitorização por parte do governo e
administração pública. Aliás, é visível a inépcia governamental no interface
educação-formação, muito potenciada por um erro de casting dos mais salientes deste governo com a escolha do agora
substituído Secretário de Estado do Emprego.
A situação em matéria de
altas qualificações não é substancialmente diferente, embora aqui Portugal
tenha mais companhias no quadrante do desespero.
A tragédia destes dados está
no facto de podermos antecipar que uma grande parte dos desempregados hoje
existentes não estará em condições de ser absorvida e recuperada acaso a
economia portuguesa evolua para uma estrutura produtiva mais intensiva em
qualificações.
Tudo isto mostra a agenda
política da melhoria das qualificações precisa de ser revitalizada. Neste período
de programa, esta agenda foi assumida como um projeto de modernização inclusiva
e é disso mesmo que se trata. Não há modernização inclusiva da sociedade
portuguesa que não passe pela fuga ao quadrante do desespero, ou seja pela
melhoria das qualificações.
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