Primeiro, uma
imprescindível declaração de interesses – em quatro breves tópicos:
1.
Conheço D. Carlos Azevedo dos
seus tempos paroquiais na Igreja de Nossa Senhora da Conceição no Porto, a mais
comummente designada Igreja do Marquês que a minha avó paterna frequentava
assiduamente.
2.
Tenho simpatia pela intervenção
cívica e pela qualidade intelectual que fui reconhecendo em multifacetadas
áreas no ex-bispo auxiliar de Lisboa, designadamente aquando da sua passagem pela
Comissão Episcopal da Pastoral Social.
3.
Possuo as melhores relações – que
vão até ao ponto de por eles nutrir admiração pessoal e profissional – com dois
dos dez irmãos Azevedo, em concreto o Joaquim e o José Maria (abdico deliberadamente
de qualquer menção a títulos e funções).
4.
Sou ateu.
Dito isto, reporto-me à bomba destes dias,
com os media a explorarem sanguinariamente
– como só eles sabem… – uma “história proibida” envolvendo “suspeitas de
assédio sexual” e determinando óbvias e graves repercussões em termos de
potencial abalo da honorabilidade e do prestígio de uma personalidade que vinha
sendo crescentemente considerada como um sério candidato à sucessão de D. José
Policarpo.
Daqui quero lavrar o meu protesto: temas
desta natureza não podem – não deviam poder! – ser tão impune e
sensacionalisticamente abordados. “O segredo do bispo”, “a queda de um anjo” ou
“com sombra de pecado” são apenas alguns dos títulos menos impróprios com que D.
Carlos Azevedo foi brindado nas últimas 24 horas. Que se investigue, sim. Que
se julgue, também sim. Que se puna, ainda sim. Que se especule e subliminarmente
condene em praça pública, definitivamente não!
Coisa diferente – porque objetivamente o é –
são as responsabilidades exigíveis à Igreja Católica pelo lugar central que ocupa enquanto
agente de referência e modelação no seio das complexas e mutantes sociedades em
que vivemos. Para quando uma normalização das questões de género e sexo nos
seus quadros valorativos, organizativos e comportamentais? O ruído em torno da
escolha do novo Papa e as cautelosas denúncias que se têm ouvido a Bento XVI
não fazem antever evoluções positivas de tomo – ainda que, às vezes, haja
milagres…
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