quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

ESCÂNDALO PRIVADO OU VÍCIO PÚBLICO?

 
Primeiro, uma imprescindível declaração de interesses – em quatro breves tópicos:
 
1.       Conheço D. Carlos Azevedo dos seus tempos paroquiais na Igreja de Nossa Senhora da Conceição no Porto, a mais comummente designada Igreja do Marquês que a minha avó paterna frequentava assiduamente.
2.       Tenho simpatia pela intervenção cívica e pela qualidade intelectual que fui reconhecendo em multifacetadas áreas no ex-bispo auxiliar de Lisboa, designadamente aquando da sua passagem pela Comissão Episcopal da Pastoral Social.
3.       Possuo as melhores relações – que vão até ao ponto de por eles nutrir admiração pessoal e profissional – com dois dos dez irmãos Azevedo, em concreto o Joaquim e o José Maria (abdico deliberadamente de qualquer menção a títulos e funções).
4.       Sou ateu.
 
Dito isto, reporto-me à bomba destes dias, com os media a explorarem sanguinariamente – como só eles sabem… – uma “história proibida” envolvendo “suspeitas de assédio sexual” e determinando óbvias e graves repercussões em termos de potencial abalo da honorabilidade e do prestígio de uma personalidade que vinha sendo crescentemente considerada como um sério candidato à sucessão de D. José Policarpo.
 
Daqui quero lavrar o meu protesto: temas desta natureza não podem – não deviam poder! – ser tão impune e sensacionalisticamente abordados. “O segredo do bispo”, “a queda de um anjo” ou “com sombra de pecado” são apenas alguns dos títulos menos impróprios com que D. Carlos Azevedo foi brindado nas últimas 24 horas. Que se investigue, sim. Que se julgue, também sim. Que se puna, ainda sim. Que se especule e subliminarmente condene em praça pública, definitivamente não!
 
Coisa diferente – porque objetivamente o é – são as responsabilidades exigíveis à Igreja Católica pelo lugar central que ocupa enquanto agente de referência e modelação no seio das complexas e mutantes sociedades em que vivemos. Para quando uma normalização das questões de género e sexo nos seus quadros valorativos, organizativos e comportamentais? O ruído em torno da escolha do novo Papa e as cautelosas denúncias que se têm ouvido a Bento XVI não fazem antever evoluções positivas de tomo – ainda que, às vezes, haja milagres…

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