Mais um amigo e uma referência do meu pensamento
que se perdem na presença implacável da morte. Xavier Gizard era um quadro de
referência da Quaternaire France nos tempos, e já lá vão mais do que 20 anos,
em que a Quaternaire
Portugal debutou
e iniciou a sua marcha para um projeto mais autónomo. Xavier Gizard foi das
primeiras pessoas que conheci com a melhor perceção da dimensão territorial do
desenvolvimento e da necessidade de acomodar essa dimensão nos processos de
governação e de implementação das políticas públicas. Ficaram retidas para
sempre na minha memória afetiva e na minha abordagem aos problemas europeus
alguns encontros em Bruxelas através dos quais despertava para uma outra
maneira de compreender as relações entre a construção europeia e as contradições
da máquina comunitária.
Como Secretário-Geral da Conferência das Regiões Periféricas Marítimas e das Cidades do Arco Atlântico
e mais recentemente como Secretário-Geral do FOGAR (Forum of Global Associations of Regions) constituída na Cidade do
Cabo na África do Sul, em Agosto de 2007, a finura intelectual e o poder de
convencimento de Xavier Gizard foram sempre colocados ao serviço da valorização
da unidade territorial região e à sua adaptação aos novos rumos da globalização.
Cidadão do mundo, nunca perdeu a sua fixação pelas Landes da região de Bordeaux
–Aquitaine e pela ligação transfronteiriça ao País Basco e era um grande amigo
de Portugal, em parte reconhecido pelo estatuto de Comendador da Ordem do
Infante D. Henrique que lhe foi atribuído em 2005. Ao seu entusiasmo se deve
nos tempos da governação de João Cravinho como ministro do Planeamento a criação
da Célula de Prospetiva da Conferência das Regiões Periféricas Marítimas,
instalada no Porto acolhida pela CCDRN, à qual se juntou a competência de Rui
Azevedo. Os amigos Elisa
Babo, Rui Azevedo e José
Maria Cabral Ferreira privaram mais regularmente com a sua simpatia, a sua
finura de espírito, a sua profunda abertura cultural e à diversidade europeia e
têm certamente uma ideia mais profunda da perda que representa o seu
desaparecimento.
Faço minhas as palavras de Jean-Yves Le Drian,
atual presidente em exercício da CRPM: “Porté par ses convictions sans faille
et sa persévérance, Xavier Gizard savait se faire entendre des plus hauts
responsables européens pour plaider la cause des régions. À l’heure où l’Europe traverse des heures difficiles, son
esprit d’anticipation et sa clairvoyance nous manqueront”(Sempre levado pelas
suas convicções inabaláveis e pela sua perseverança, Xavier Gizard sabia
fazer-se ouvir junto dos mais altos responsáveis europeus para defender a causa
das regiões. Num momento em que a Europa atravessa horas difíceis, sentiremos
muito a falta do seu espírito de antecipação e da sua clarividência).
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