Já se sabia que o Comissário
Olli Rehn, vice-presidente da Comissão Europeia responsável pelas questões
macroeconómicas, é um dos tais casos ilustrativos da trajetória descendente em
termos de robustez de ideias em que a tecnoestrutura bruxelense está mergulhada
desde há algum tempo.
Olli Rehn é o representante
mais óbvio de toda a ideologia macroeconómica que sustenta a Comissão Europeia
do ponto de vista da abordagem à crise do Euro e das dívidas soberanas. Sabe-se
ao que vem. Mas esta semana a sua agremiação ideológica tornou-se mais clara e
caiu no ridículo de uma grande parte dos economistas americanos.
Ora, o inefável Rehn dirigiu uma carta aos ministros das Finanças europeus maldizendo o debate suscitado
pelo economista-chefe do FMI Olivier Blanchard, no âmbito do qual se
apresentava evidência segura de que a Comissão Europeia e o próprio FMI
subavaliaram os efeitos recessivos das políticas de consolidação fiscal
ensaiadas como meio de ataque à crise das dívidas soberanas. Nessa carta, Rhen
tem o desplante (só justificado pela defesa da agremiação ideológica que serve
com devoção) de afirmar que o debate suscitado pelo artigo de Blanchard não foi
útil e que poderia contribuir para a queda da confiança sobre a bondade e robustez
de tais medidas. Numa altura em que se torna evidente que a economia europeia
dificilmente recuperará tão depressa da incapacidade de compreender os riscos
deflacionários e os limites de uma política de contração fiscal com taxas de
juro próximas de zero, o topete de Olli Rehn em negar as evidências e a seriedade dos
economistas que ousaram questionar a orientação em curso mostra bem como a
Comissão Europeia não é uma entidade inocente. Certamente contraditória, mas
inocente e tecnocrática é que não é.
Vários economistas como
Bradford DeLong, Jonathan Portes, Krugman e muitos outros têm evidenciado o ridículo
desta negação do debate, entendido como fator de degradação da confiança na
bondade das políticas de austeridade.
As palavras de Krugman são
uma boa denúncia dos perigos de atribuir poder a este tipo de gente: “estes
sinais de desespero são gratificantes. Infelizmente, estas pessoas já causaram
imensos danos e ainda conservam o poder para fazer muitos mais”.
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