Fruto de uma espera na ponte
ferroviária do Porto-Lisboa, uma curta passagem pela FNAC do Vasco da Gama
colocou-me nas mãos o livro de Kurdo Baksi centrado na sua proximidade a Stieg
Larsson, autor da célebre trilogia Millennium. Tinha-me escapado e ainda bem
que o recuperei.
O personagem Stieg Larsson
fascina-me mais do que a leitura obsessiva da trilogia que me ocupou uns dias
de Agosto. A biografia mais ou menos intimista que Baksi elaborou do amigo próximo
é preciosa para entender alguns contornos da trilogia que despertaram em muitos
dos seus leitores compulsivos surpresas inesperadas sobre a sociedade sueca.
A biografia de Baksi analisa
em pormenor o roteiro de Larsson como ativista implacável na denúncia do
crescimento larvar do racismo e do neonazismo na sociedade sueca. Ao fazê-lo,
oferece-nos elementos preciosos para compreender as várias dimensões da
disseminação desses dois fenómenos, relacionando-os com vários quadrantes da
sociedade sueca. Livro pequeno que quase devorei nas duas horas e quarenta e
cinco da viagem, Stieg Larsson, My Friend
constitui estranhamente uma espécie de guião contextualizador da obsessiva
trilogia que me atormentou alguns dias de Agosto.
Há um poema de Raymond
Carver (outra das minhas fixações) que atravessa a biografia, também ele
escrito por Carver antes da sua morte, que fecha bem este post:
“And did you get what
you wanted from this life, even so?
I did.
And what did you want?
To call myself beloved, to feel
myself
Beloved on the earth”
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