É indecoroso o modo como
algum PSD, e até com pés na governação, tem patrocinado campanhas autárquicas
que se suportam no contrário da contenção orçamental que o governo pretende
transmitir aos portugueses como pretensa forma redentora de erros do passado. As
candidaturas de Meneses e de Seara, mas não apenas estas, representam embora
com probabilidades muito desiguais de êxito o contrário do aperto de cinto que
a maioria atual nos tem impingido. É lamentável que o Porto se preste a ser na
prática espaço de experimentação de governar e propor o contrário, abrindo
caminho ao populismo desenfreado de Meneses. Mas não é menos lamentável que a
hipótese de travar esse populismo instável esteja, a fazer fé nas sondagens que
se vão conhecendo, praticamente limitada à candidatura pretensamente iluminada
de Rui Moreira. O Porto merecia melhor, algo mais abrangente do que a matriz
fozeira de Moreira. Mas também pode perguntar-se porquê tanta gente se
movimentou contrariando o partido e procurando travar a ascensão de Meneses e
porquê essa mesma gente se inibe de intervir no descalabro político nacional,
pelo menos a um nível de indignação similar ao que Manuela Ferreira Leite tem
utilizado para desancar nesta governação.
A fraca percentagem estimada
para um bem intencionado Manuel Pizarro já não será propriamente o mistério que
inicialmente suscitou. O PS estará a pagar a quase nula experiência de trabalho
político em torno da câmara do Porto nos últimos 4 anos, na qual um desamparado
Manuel Correia Fernandes não pôde claramente substituir-se a um PS sem imaginação.
Nas últimas presenças de rua, o que tem passado para os meios de comunicação é
uma patética tentativa de Pizarro colar a sua campanha a um exclusivo voto de
descontentamento, afinal tão fácil de capitalizar dadas as diabruras já
concretizadas mas também as que se antecipam para o orçamento de 2014. Sendo
aparentemente tão fácil a capitalização do descontentamento nacional,
projetando-o para o nível local, a pergunta que o PS terá de colocar a si próprio
na noite das eleições é a de saber porquê essa capitalização de descontentamento
ficou tão aquém do que seria estimável acontecer? Compreendo que colocar a
questão não seja confortável. Afinal a resposta pode ser ainda mais incómoda.
Na verdade, há muito boa gente que hesitará em deslocar esse descontentamento
para o PS, sobretudo porque antecipa dificuldades em influenciar a sua eventual
governação futura, por mais piruetas Seguro agora anuncie poder fazer.
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