sábado, 21 de setembro de 2013

A FARSA



É indecoroso o modo como algum PSD, e até com pés na governação, tem patrocinado campanhas autárquicas que se suportam no contrário da contenção orçamental que o governo pretende transmitir aos portugueses como pretensa forma redentora de erros do passado. As candidaturas de Meneses e de Seara, mas não apenas estas, representam embora com probabilidades muito desiguais de êxito o contrário do aperto de cinto que a maioria atual nos tem impingido. É lamentável que o Porto se preste a ser na prática espaço de experimentação de governar e propor o contrário, abrindo caminho ao populismo desenfreado de Meneses. Mas não é menos lamentável que a hipótese de travar esse populismo instável esteja, a fazer fé nas sondagens que se vão conhecendo, praticamente limitada à candidatura pretensamente iluminada de Rui Moreira. O Porto merecia melhor, algo mais abrangente do que a matriz fozeira de Moreira. Mas também pode perguntar-se porquê tanta gente se movimentou contrariando o partido e procurando travar a ascensão de Meneses e porquê essa mesma gente se inibe de intervir no descalabro político nacional, pelo menos a um nível de indignação similar ao que Manuela Ferreira Leite tem utilizado para desancar nesta governação.
A fraca percentagem estimada para um bem intencionado Manuel Pizarro já não será propriamente o mistério que inicialmente suscitou. O PS estará a pagar a quase nula experiência de trabalho político em torno da câmara do Porto nos últimos 4 anos, na qual um desamparado Manuel Correia Fernandes não pôde claramente substituir-se a um PS sem imaginação. Nas últimas presenças de rua, o que tem passado para os meios de comunicação é uma patética tentativa de Pizarro colar a sua campanha a um exclusivo voto de descontentamento, afinal tão fácil de capitalizar dadas as diabruras já concretizadas mas também as que se antecipam para o orçamento de 2014. Sendo aparentemente tão fácil a capitalização do descontentamento nacional, projetando-o para o nível local, a pergunta que o PS terá de colocar a si próprio na noite das eleições é a de saber porquê essa capitalização de descontentamento ficou tão aquém do que seria estimável acontecer? Compreendo que colocar a questão não seja confortável. Afinal a resposta pode ser ainda mais incómoda. Na verdade, há muito boa gente que hesitará em deslocar esse descontentamento para o PS, sobretudo porque antecipa dificuldades em influenciar a sua eventual governação futura, por mais piruetas Seguro agora anuncie poder fazer.

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