domingo, 29 de setembro de 2013

NOITE DE ELEIÇÕES



Com resultados ainda tão truncados, não é fácil sistematizar uma reflexão global sobre o que estas eleições podem significar.
Parece claro, entretanto, que o PS ganha alguma expressão adicional do ponto de vista nacional e projeta-se numa maioria mais assumida e de maior ambição futura, não fazendo tremer Seguro, embora a grande generalidade dos jornalistas tentasse arrancar alguma prova de debilidade. É também ponto assente que sobretudo no Alentejo a CDU capitaliza como peixe na água o descontentamento político, mostrando que a identidade comunista de muitos territórios alentejanos permanece.
A perda por parte do PS de alguns dos seus bastiões exige uma explicação mais aprofundada. Tais resultados mostram que a radicalização de Seguro em torno dos problemas nacionais não funcionou por toda a parte e que a população local terá desejado arrasar algumas das escolhas de candidatos (Matosinhos será indiscutivelmente o símbolo dessa rejeição, onde Parada terá perdido a sua própria Junta de Freguesia) ou terá querido manifestar algum cansaço pela longa presença do PS no comando do município, não enjeitando o voto na alternativa PSD (Braga é neste caso o exemplo paradigmático). No caso de Matosinhos ficam dois apontamentos relevantes: o inenarrável Parada refugiou-se numa tão tonta como enigmática afirmação (foi o poder e não o povo que ganhou as eleições, o que para um homem puramente de aparelho é uma delícia); Guilherme Pinto salientou bem o trabalho social da sua presidente da Assembleia Municipal, a amiga Palmira.
Para o fim ficam Lisboa e Porto. Na primeira, Costa passeou superioridade reunindo até a condescendência de Pulido Valente, o que é obra. Helena Roseta teve um bom discurso de vitória, lançando algumas alfinetadas para os largos do Rato: democracia partidária e democracia participativa são combináveis e a vitória resultou de um trabalho duro para inverter os cacos que Santana Lopes deixou, sob a liderança eficiente e motivadora de Costa. No Porto, tenho de confessar que, como simpatizante socialista, o discurso algo patético de derrota de Pizarro me incomodou, para não dizer que me envergonhou. Oh homem!, se Rui Moreira era assim tão bom candidato então uma de duas, ou se criava à partida uma solução cooperativa para a Cidade ou então tinha-se focado mais a campanha para contrariar a sua ascensão. Rui Rio deve ter ouvido com imenso gozo aquele discurso de derrota. Quanto à vitória de Rui Moreira, se é obra a vitória de um independente apoiado pelo velho PSD e por isso e pela resistência aos apoios de circunstância do Governo a Meneses deve ser felicitado, confesso que começo a ficar cansado da reiterada tese de que no Porto tudo é diferente. Apesar de toda essa diferença, a perda de influência política da Cidade é notória. Veremos se Rui Moreira tem gabarito suficiente para finalmente se construir um discurso nacional a partir do Porto.
Ah! a prova de que a democracia rompe todas as cortinas de poder é que Jardim levou na Madeira com uma derrota tamanha, vencido no Funchal pela simples concertação de forças políticas adversárias, com PS e Bloco lá metidos. Uma boa forma de terminar a noite, mesmo sem acesso a todos os resultados.

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