terça-feira, 24 de setembro de 2013

FOI VOCÊ QUE PEDIU AUSTERIDADE?



O forte interesse que tenho dedicado ao tema da austeridade neste blogue não se deve ao seu impacto político e a uma perspetiva social da penosidade que ela provoca, não certamente mais no grupo social em que me insiro, mas sobretudo em grupos mais vulneráveis e a um incompreendido e desprotegido funcionalismo público. Não sou indiferente a esses temas, mas o que me interessa verdadeiramente é a austeridade como política pública, pretensamente fundamentada por teoria económica de suporte. Pois foi assim que estas políticas emergiram, a coberto de uma pretensa fundamentação económica. Ora, nos últimos tempos, tal cobertura alterou-se profundamente, mais concretamente abriu rombos significativos.
Krugman tem um excelente post sobre esta matéria, interrogando-se decisivamente sobre “onde estarão os economistas racionalizadores ou fundamentadores da austeridade?”. O juízo é importante, sobretudo porque o critério é o da identificação de economistas reputados e independentes, ou seja que não estejam associados a forças políticas que continuem a defender a austeridade pela austeridade, numa espécie de entrega obediente ao dictat dos mercados da dívida.
Krugman sublinha que as teses da austeridade expansionista (Alesina e seus ragazzi) e de Rogoff e Reinhart deixaram de constituir alicerces fundamentadores das políticas de austeridade, não podendo hoje ser consideradas suportes robustos das mesmas. O debate económico sério foi corrompido e a austeridade como solução “tout court” para o problema da dívida deixa de ter nele cobertura. O tema está acantonado no cinismo político. O artigo de Wolfgang Schaϋble publicado no Financial Times a 16 de setembro é a manifestação mais apurada desse cinismo, no qual a criatura procura fazer-nos crer que a Europa está estrutural e conjunturalmente a resolver-se: “Apesar do que os críticos da gestão da crise europeia nos fizeram crer, vivemos no mundo real, não num universo paralelo em que os princípios económicos bem estabelecidos deixaram de aplicar-se”. Bem sabemos que o artigo emerge em plena campanha eleitoral alemã. O jornalista Ambrose Evans-Pritchard deu-lhe no The Telegraph o devido troco

O regressado de férias Martin Wolf no Financial Times dá-lhe um troco ainda mais robusto: “Como o artigo de Schaϋble torna claro, a procura não aparece na análise. Porém, um grande país com um enorme excedente estrutural corrente não exporta apenas produtos. Ele também exporta bancarrota e desemprego, particularmente se o correspondente fluxo de capital consistir em dívida a curto prazo.”

Não abandonemos o debate económico.

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