quarta-feira, 18 de setembro de 2013

EIS QUE REGRESSAM …

(Casas en Carabanchel, Madrid, que o Ayuntamiento vendeu ao fundo Blackstone. / SAMUEL SÁNCHEZ para o El País)


Aceito que este título é bastante equívoco e que pode querer significar entre outras coisas alguma reflexão sobre o regresso da Troika para duas avaliações numa só, com algumas chefias de missão renovadas. Podia ser essa interpretação mas não é essa a minha intenção.
A discussão que se tem feito em Portugal sobre a escolha possível entre novo resgate e programa cautelar para o regresso aos mercados não pode deixar de ponderar o que significa a nova subida das taxas de juro da dívida a longo prazo portuguesa no mercado secundário. Verdadeiros oráculos dos mercados têm-se multiplicado em interpretações do que significa essa aparente inversão face aos tempos mais recentes, mas muito pouca gente tem ponderado a possibilidade de uma máquina infernal de dependências e de contradições nesta instabilidade ascendente das taxas de juro. Os oráculos apressados oscilam ora em penalizar as más perspetivas de crescimento da economia portuguesa ora as más perspetivas de continuidade da consolidação abrupta e a todo o preço das contas públicas nacionais, como se não estivessem em parte relacionadas. O FMI pode fazer todos os atos de contrição quanto à má ponderação das políticas de austeridade, mas a situação portuguesa parece estar fora do alcance dos mea culpa.
A contradição intrínseca de todos estes oráculos apressados quanto ao comportamento dos mercados foi-me avivada no último fim de semana quando percorria o El País de domingo e sobretudo o seu suplemento de economia. O jornal documentava bem um fenómeno estranho e recente que está a dominar a atenção dos analistas na economia espanhola. Nos últimos dias, tem-se assistido a uma entrada de capital de grandes proporções na economia espanhola orientado para aquisições no ramo imobiliário inclusivamente no mercado de habitação social (ver imagem acima). Pelo que me pude aperceber os vendedores são grupos empresariais apertados do ponto de vista financeiro, mas também entidades do setor público.
O El País documentava em síntese o que se está a passar:
“El dinero vuelve a poner los ojos en España. Decenas de fondos internacionales han aterrizado en los últimos meses en busca de los saldos de la crisis. Repentinamente, inversores y especuladores consideran que el mercado español es otra vez atractivo. ¿Qué está pasando?”
Podemos encontrar aqui a identificação de alguns dos fundos internacionais compradores.
Pergunta-se, onde está o estranho desta situação?
É conhecido que a onda especulativa que precipitou a economia espanhola numa crise bancária que acabou por determinar uma espécie de resgate dirigido à banca em dificuldades não teria sido possível sem uma decisiva participação de capitais externos para financiar tais operações. Sabemos as consequências desse processo e sabemos também que parte do capital estrangeiro se escapuliu rapidamente dos mercados financeiros espanhóis. Ora, depois da destruição de valor que tal processo determinou, eis que o capital estrangeiro regressa, agora para adquirir capital físico senão a preço da chuva, pelo menos com perspetivas de ganhos consideráveis com alguma recuperação do mercado imobiliário.
Contraditório? Talvez. Mas sobretudo revelando bem a fragilidade de todo este processo.

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