Apesar da importante explicitação de algumas diferenças claras no domínio das políticas fiscal, laboral e social, não terão sido especialmente entusiasmantes os 90 minutos de “duelo televisivo” que realizaram, no quadro das eleições alemãs e perante 17,6 milhões de espetadores, a chanceler cessante Angela Merkel e o social-democrata Peer Steinbrück.
Talvez que o registo mais saliente provenha do facto de o SPD ter aparentemente mudado de tática em relação a um assunto que também nos toca de perto: o modo como Merkel tem gerido a crise europeia ao longo destes anos. Na realidade, é tão curioso e intrigante que Steinbrück tenha finalmente assumido uma atitude frontalmente crítica na matéria quanto se trata de um tópico em que não só o SPD tem no essencial secundado o Governo (e Merkel não deixou de o sublinhar) como também em que os alemães revelam nas sondagens um nítido apoio maioritário à postura governamental (70% de oposição a transferências orçamentais diretas para outros países da Zona Euro, 55% de apoio a uma redução da Zona Euro por forma a incluir apenas países mais próximos, 52% de oposição a quaisquer fundos adicionais, 46% de oposição a uma salvação do Euro a qualquer preço, etc.).
Talvez que o registo mais saliente provenha do facto de o SPD ter aparentemente mudado de tática em relação a um assunto que também nos toca de perto: o modo como Merkel tem gerido a crise europeia ao longo destes anos. Na realidade, é tão curioso e intrigante que Steinbrück tenha finalmente assumido uma atitude frontalmente crítica na matéria quanto se trata de um tópico em que não só o SPD tem no essencial secundado o Governo (e Merkel não deixou de o sublinhar) como também em que os alemães revelam nas sondagens um nítido apoio maioritário à postura governamental (70% de oposição a transferências orçamentais diretas para outros países da Zona Euro, 55% de apoio a uma redução da Zona Euro por forma a incluir apenas países mais próximos, 52% de oposição a quaisquer fundos adicionais, 46% de oposição a uma salvação do Euro a qualquer preço, etc.).
Os dois principais opositores terão consagrado 12 minutos do debate à Grécia e mais genericamente, a seu propósito, à questão da crise da dívida soberana na Europa. Com Merkel a contrapor a uma “falsa solidariedade” o prosseguimento de um “princípio de solidariedade e responsabilidade” e a insistir em conformidade nas suas habituais teclas – a adesão da Grécia ao Euro ao tempo de Schröder, a justeza do tratamento imposto aos prevaricadores, o seu dever de não ceder às pressões sobre as reformas na Grécia, as consequências virtuosas sobre a competitividade europeia decorrentes da sua posição de amarrar a ajuda ao cumprimento de condições e à realização de reformas, as iniciativas que tomou em favor do crescimento e os recentes sinais positivos dos mercados – e com Steinbrück a denunciar “quatro anos perdidos” e a lamentar o “foco unilateral na austeridade” que levou os países do sul da Europa a terem de engolir profundos cortes na despesa em troca de resgates. Acrescentando este ainda, e designadamente:
· “Com o anúncio de um terceiro pacote para a Grécia [reportando-se às declarações do ministro das Finanças Wofgang Schäuble no sentido de a Grécia ir ainda precisar de mais dinheiro e ao reconhecimento por Merkel de que ninguém sabe precisamente como as coisas se irão desenvolver na Grécia, não descartando a possibilidade de um novo pacote de dimensão ainda desconhecida], não devemos admitir a nós próprios que a estratégia de crise seguida até à data – largamente implementada por este governo – falhou?”
· Eu teria seguido uma diferente estratégia de crise. Claro que tem de haver consolidação orçamental nesses países, mas não uma dose mortal”.
· “A Alemanha já uma vez teve também ajuda e não devemos esquecer isso”, enfatizando que “a Alemanha foi maciçamente ajudada após a segunda guerra mundial com o Plano Marshall”.
· “O que está a faltar é um programa de reconstrução, o que está a faltar é um impulso de crescimento, o que está a faltar é a luta contra o desemprego dos jovens”.
Volto, a terminar, aos sinais de uma eventual mudança de tática dos social-democratas. E a pergunta pertinente é: trata-se de puro desespero perante os resultados que se desenham ou significará ela algo mais e o quê? Vejamos, para tal recorrendo aos valores médios das quatro sondagens já divulgadas neste mês de setembro e à sua comparação com os obtidos pelos diversos partidos em 2009 (gráfico abaixo):
· Merkel vencerá e verá subir a representação do seu partido, mas o facto de o grande perdedor ser o atual parceiro de coligação de Merkel (FDP, liberais) parece apontar para uma provável confirmação da inviabilidade de uma maioria absoluta à direita;
· as subidas indicadas para o SPD e os Verdes (que passarão a terceiro maior partido) poderão vir a revelar-se muito tímidas e não facilmente incentivadoras de um governo à esquerda (com a agravante de uma quebra do “Die Linke” e da presença da nova e imprevisível realidade AfD, de que já aqui falei em post de 19 de abril);
· convirá ainda não desvalorizar o facto de a lei eleitoral alemã impor a representatividade mínima de 5% para entrada de um partido no Parlamento, o que pode (?) deixar de fora o FDP e a AfD ou só um dos dois e favorecer desigualmente os restantes em termos de distribuição final do número de lugares;
· sendo assim a “grande coligação” (CDU-SPD) a saída governativa mais provável, Steinbrück estará agora a apostar mais forte ou na perspetiva minor de um ganho de margem de manobra negocial pós-eleitoral que a tática contemporizadora/conciliadora manifestamente não estava a lograr ou na perspetiva major de uma surpresa que possa vir a verificar-se “até ao lavar dos cestos” do próximo dia 22 em benefício de uma qualquer mudança (wechsel) para o lado rot-grün.
Tomara que ainda não seja de excluir a hipótese de vir aí um início de Outono mais quente do que o esperado...
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