quarta-feira, 4 de setembro de 2013

OS PERIGOS DA GERMANIZAÇÃO

(Ilustração do Financial Times para o artigo de Adam Posen)


A “germanização” da Europa tem sido apontada como um atrofiamento intolerável do processo de construção europeia, a antítese dos seus princípios constitutivos baseados na pluralidade, diversidade, solidariedade.
Adam Posen assinou há dias um artigo no Financial Times que dá uma outra nuance a essa germanização e aos perigos que ela representa. O argumento é baseado nas características de modelo de crescimento económico que tem diferenciado a economia alemã nos últimos tempos.
Talvez para surpresa de muitos, Posen apresenta argumentos que evidenciam que a economia alemã tem prosseguido um modelo de competitividade baseado na diminuição dos custos de mão-de-obra, o que é no mínimo paradoxal numa economia de fronteira como a alemã se apresenta. A evidência de que a taxa de investimento tem permanecido na economia alemã em torno dos 18%, descendo continuadamente de valores em torno dos 24% e significativamente abaixo do grupo de 7 economias que lideram a economia mundial. E, surpreendentemente, a produtividade (o produto por hora trabalhada) tem evoluído ¼ % abaixo da média da OCDE, não se notando na economia alemã qualquer sinal de melhoria de qualificações face a gerações anteriores.
Há, assim, evidências de que a economia alemã está a regredir na cadeia de valor das suas exportações, de que o principal sinal é a insistência no fator de competitividade redução dos custos em trabalho.
Neste contexto, os perigos da “germanização” assumem novos cambiantes e não são apenas de hegemonia política. A evolução europeia que se antecipa a partir destes sinais é totalmente contraditório com toda a retórica que domina a Europa 2020, tal como o foi com a retórica também falhada da Estratégia de Lisboa.

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