domingo, 29 de setembro de 2013

MANHÃ DE ELEIÇÕES



Tenho a sorte e o prazer de viver numa das raras zonas residenciais urbanas de média densidade de Vila Nova de Gaia, onde o café, a esplanada e a livraria de bairro distam poucos metros da minha casa e, por sorte acrescida, da renovada Escola António Sérgio onde voto há já longos anos. Por isso, as manhãs eleitorais trazem a esta zona residencial uma outra atmosfera e sempre dá para rever gente que já não se encontra há bastante tempo.
Mas há medida que o tempo passa e se sucedem os atos eleitorais, fica cada vez evidente o nosso acantonamento num grupo etário que já votou nas primeiras eleições democráticas pós 25 de abril. Embora ainda não me possa queixar desse acantonamento, a verdade é que nas longas filas que percorriam os corredores da António Sérgio o peso da idade e das bengalas começa a fazer-se sentir e até a tornar mais lento o processo de preenchimento do voto e do seu depositar na urna preta e singela que domina a mesa eleitoral. Sempre são três papéis e o número de candidatos exige atenção para não fazer asneira.
Não pude deixar de refletir sobre o significado daquele contexto, o confronto entre as instalações renovadas da António Sérgio e grupo etário dominante ali presente. A Escola é nitidamente um equipamento de futuro. Maria de Lurdes Rodrigues tinha razão na sua teimosia. Com todos os excessos que se terão cometido, a verdade é que está ali um equipamento de nova geração, cuja repercussão no desenvolvimento do país só produzirá resultados se a geração que ainda não vota e que ali realiza o seu percurso de formação tenha oportunidade de concretizar a melhoria de oportunidades em realizações concretas intra-muros e não no estrangeiro e que possa dispor de professores com a motivação e o profissionalismo necessários para tirar partido daquela infraestrutura qualificando o ensino. Por muita energia e conhecimento que o grupo etário votante naquele equipamento possa ainda dar ao processo, já não estará essencialmente na nossa capacidade de intervenção o poder de traduzir a qualidade daquela infraestrutura em resultados decisivos para o país. O contexto parece-me simbólico da encruzilhada em que está o país.
Pelo menos na hora em que votei, um pouco antes do meio-dia, o ambiente parecia fervilhante e antecipar uma taxa de votação bastante significativa. Poderá estar eminente no plano eleitoral algo de semelhante ao que se passou com a manifestação nacional contra o aborto da TSU, adivinhando-se uma forte penalização da maioria? Ou poderá na participação acrescida estar presente uma resistência de última hora do suporte da maioria, alertada em última hora por sondagens preocupantes para alguns dos seus bastiões? A minha intuição vai para a primeira das hipóteses, embora isso possa não significar necessariamente uma vitória estrondosa do PS.
Mas, qualquer que seja o resultado, fica uma manhã eleitoral vivida, apesar de húmida, e isso também faz parte da nossa vivência urbana e cidadã.

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