Tenho a sorte e o prazer de
viver numa das raras zonas residenciais urbanas de média densidade de Vila Nova
de Gaia, onde o café, a esplanada e a livraria de bairro distam poucos metros
da minha casa e, por sorte acrescida, da renovada Escola António Sérgio onde
voto há já longos anos. Por isso, as manhãs eleitorais trazem a esta zona
residencial uma outra atmosfera e sempre dá para rever gente que já não se
encontra há bastante tempo.
Mas há medida que o tempo
passa e se sucedem os atos eleitorais, fica cada vez evidente o nosso
acantonamento num grupo etário que já votou nas primeiras eleições democráticas
pós 25 de abril. Embora ainda não me possa queixar desse acantonamento, a
verdade é que nas longas filas que percorriam os corredores da António Sérgio o
peso da idade e das bengalas começa a fazer-se sentir e até a tornar mais lento
o processo de preenchimento do voto e do seu depositar na urna preta e singela
que domina a mesa eleitoral. Sempre são três papéis e o número de candidatos
exige atenção para não fazer asneira.
Não pude deixar de refletir
sobre o significado daquele contexto, o confronto entre as instalações
renovadas da António Sérgio e grupo etário dominante ali presente. A Escola é
nitidamente um equipamento de futuro. Maria de Lurdes Rodrigues tinha razão na
sua teimosia. Com todos os excessos que se terão cometido, a verdade é que está
ali um equipamento de nova geração, cuja repercussão no desenvolvimento do país
só produzirá resultados se a geração que ainda não vota e que ali realiza o seu
percurso de formação tenha oportunidade de concretizar a melhoria de oportunidades
em realizações concretas intra-muros e não no estrangeiro e que possa dispor de
professores com a motivação e o profissionalismo necessários para tirar partido
daquela infraestrutura qualificando o ensino. Por muita energia e conhecimento
que o grupo etário votante naquele equipamento possa ainda dar ao processo, já
não estará essencialmente na nossa capacidade de intervenção o poder de
traduzir a qualidade daquela infraestrutura em resultados decisivos para o país.
O contexto parece-me simbólico da encruzilhada em que está o país.
Pelo menos na hora em que
votei, um pouco antes do meio-dia, o ambiente parecia fervilhante e antecipar
uma taxa de votação bastante significativa. Poderá estar eminente no plano
eleitoral algo de semelhante ao que se passou com a manifestação nacional
contra o aborto da TSU, adivinhando-se uma forte penalização da maioria? Ou
poderá na participação acrescida estar presente uma resistência de última hora
do suporte da maioria, alertada em última hora por sondagens preocupantes para
alguns dos seus bastiões? A minha intuição vai para a primeira das hipóteses, embora
isso possa não significar necessariamente uma vitória estrondosa do PS.
Mas, qualquer que seja o
resultado, fica uma manhã eleitoral vivida, apesar de húmida, e isso também faz
parte da nossa vivência urbana e cidadã.
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