quarta-feira, 11 de setembro de 2013

TAMBÉM NO REINO UNIDO

(El Roto para o El País)


Um dos domínios de afeição deste blogue é a reflexão sobre tendências das nossas sociedades que apresentam um forte potencial para transformar as condições de vida e de interação na sociedade, conduzindo por isso a novos contextos para as políticas públicas e para as fronteiras entre o público e o privado.
A tendência para os jovens permanecerem até mais tarde nas casas dos pais e partilharem as economias familiares tem sido aqui diversas vezes abordada. Até aqui pensávamos que se tratava de fenómeno particular das economias do sul, sobretudo das que partilham uma educação mais maternal ou paternal, ou seja, mais protetora.
Mas à medida que se vão conhecendo novas evidências empíricas o fenómeno não é uma particularidade das economias do sul, manifesta-se também em sociedades mais avançadas. Isto significa que os fatores explicativos intra-famílias estão a perder relevância explicativa face a fatores de natureza transversal, de natureza essencialmente económica, e que decorrem da situação de lenta recuperação económica que se vive no mundo ocidental.
Se há dias era a sociedade americana que aqui era referenciada, hoje é a extensão de tal fenómeno ao Reino Unido. O Financial Times do dia 6 de setembro dedicava-lhe um artigo, centrado em números bastante expressivos: 3 milhões de britânicos com idade entre os 20 e os 34 viviam em casa dos pais, 60% dos quais eram do sexo masculino; três em cada dez tinham pelo menos um filho com idade entre 21 e 40 anos a viver consigo e dois terços desses pais reafirmavam que os filhos não tinham condições para mudar esse estatuto. O fator explicativo indicado pela jornalista Tanya Powley respeitava ao elevado preço de habitações e de rendas para o qual o mercado e as políticas públicas não tinham resposta eficaz.
Estamos aqui perante um fator de desigualdade agravada entre os jovens e que se prende com a desigualdade salarial nesse grupo etário: as diferenças abissais entre os que situados no topo da escala salarial para esse nível de experiência conseguem ainda jovens partilhar condições de vida que, na sua idade, os seus pais provavelmente não tiveram e os que abrigados em modalidades de “mini-jobs” ou de salários extremamente baixos permanecem abrigados na economia familiar. É óbvio que os adeptos da não regulação do mercado de trabalho nunca se preocupam com os efeitos dinâmicos perversos das suas posições.

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