(El Roto para o El País)
Um dos domínios de afeição
deste blogue é a reflexão sobre tendências das nossas sociedades que apresentam
um forte potencial para transformar as condições de vida e de interação na sociedade,
conduzindo por isso a novos contextos para as políticas públicas e para as
fronteiras entre o público e o privado.
A tendência para os jovens
permanecerem até mais tarde nas casas dos pais e partilharem as economias
familiares tem sido aqui diversas vezes abordada. Até aqui pensávamos que se
tratava de fenómeno particular das economias do sul, sobretudo das que
partilham uma educação mais maternal ou paternal, ou seja, mais protetora.
Mas à medida que se vão
conhecendo novas evidências empíricas o fenómeno não é uma particularidade das
economias do sul, manifesta-se também em sociedades mais avançadas. Isto
significa que os fatores explicativos intra-famílias estão a perder relevância
explicativa face a fatores de natureza transversal, de natureza essencialmente
económica, e que decorrem da situação de lenta recuperação económica que se
vive no mundo ocidental.
Se há dias era a sociedade
americana que aqui era referenciada, hoje é a extensão de tal fenómeno ao Reino
Unido. O Financial Times do dia 6 de setembro dedicava-lhe um artigo, centrado em
números bastante expressivos: 3 milhões de britânicos com idade entre os 20 e
os 34 viviam em casa dos pais, 60% dos quais eram do sexo masculino; três em
cada dez tinham pelo menos um filho com idade entre 21 e 40 anos a viver
consigo e dois terços desses pais reafirmavam que os filhos não tinham condições
para mudar esse estatuto. O fator explicativo indicado pela jornalista Tanya
Powley respeitava ao elevado preço de habitações e de rendas para o qual o
mercado e as políticas públicas não tinham resposta eficaz.
Estamos aqui perante um
fator de desigualdade agravada entre os jovens e que se prende com a
desigualdade salarial nesse grupo etário: as diferenças abissais entre os que
situados no topo da escala salarial para esse nível de experiência conseguem
ainda jovens partilhar condições de vida que, na sua idade, os seus pais
provavelmente não tiveram e os que abrigados em modalidades de “mini-jobs” ou de salários extremamente
baixos permanecem abrigados na economia familiar. É óbvio que os adeptos da não
regulação do mercado de trabalho nunca se preocupam com os efeitos dinâmicos
perversos das suas posições.
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