De regresso à sua sempre por nós
visitada coluna no Financial Times, Wolfgang Mϋnchau desperta-nos para uma
outra perspetiva sobre as eleições alemãs, as tais que, talvez precipitadamente,
toda a gente parece esperar para corrigir a frágil trajetória europeia.
Pois o artigo de Mϋnchau
arrefece bastante essa esperança, desenhando um quadro de instabilidade na vida
política alemão que tenho visto referenciado no que tenho lido sobre os cenários
eleitorais possíveis.
O argumento de Mϋnchau explora a diferente situação que
a coligação Cristãos Democratas (Merkel) e Liberais apresenta nas duas Câmaras,
na Câmara Baixa em que têm maioria e na Câmara Alta, o Bundesrat, em que os estados
regionais estão representados e na qual a coligação não dispõe de maioria.
Neste quadro, ponderadas as
sondagens conhecidas, o quadro esperado para a coligação no poder não é de
molde a garantir a desejada estabilidade governativa, pois o não domínio da Câmara
Alta introduz incerteza.
Com o cenário de apenas 5
partidos representados no Bundestag, a hipótese de uma grande coligação Merkel –
SPD é também instável, pois o SPD pode oscilar entre coligar-se com Merkel
(reeditando a experiência de 2005-2009) ou constituir uma frente de esquerda
com os Verdes e o Partido da Esquerda.
Mϋnchau mostra que a coligação
Merkel-SPD só poderia tornar-se estável, no sentido de que nenhum dos partidos
teria interesse em quebrar a coligação, se o Alternative fϋr Deutschland (não europeísta e favorável a uma
implosão do euro) conseguisse atingir o limiar dos 5% para uma representação
parlamentar e os Liberais não a perdessem.
Considerando o cenário mais
provável da atual coligação conseguir uma ligeira maioria, a situação que pode
ser antecipar-se está longe de poder considerar-se estável, o que significa que
o pós setembro pode ser uma ilusão em termos europeus. Merkel pode estar mais
condicionada do que nunca. Não será difícil imaginar nesse contexto quão errática
passará a ser de novo a trajetória europeia.
Por isso, esperar por
setembro corre o risco de transformar-se numa inconsequente esperança.
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