terça-feira, 10 de setembro de 2013

A INSTABILIDADE ALEMÃ



De regresso à sua sempre por nós visitada coluna no Financial Times, Wolfgang Mϋnchau desperta-nos para uma outra perspetiva sobre as eleições alemãs, as tais que, talvez precipitadamente, toda a gente parece esperar para corrigir a frágil trajetória europeia.
Pois o artigo de Mϋnchau arrefece bastante essa esperança, desenhando um quadro de instabilidade na vida política alemão que tenho visto referenciado no que tenho lido sobre os cenários eleitorais possíveis.
O argumento de Mϋnchau explora a diferente situação que a coligação Cristãos Democratas (Merkel) e Liberais apresenta nas duas Câmaras, na Câmara Baixa em que têm maioria e na Câmara Alta, o Bundesrat, em que os estados regionais estão representados e na qual a coligação não dispõe de maioria.
Neste quadro, ponderadas as sondagens conhecidas, o quadro esperado para a coligação no poder não é de molde a garantir a desejada estabilidade governativa, pois o não domínio da Câmara Alta introduz incerteza.
Com o cenário de apenas 5 partidos representados no Bundestag, a hipótese de uma grande coligação Merkel – SPD é também instável, pois o SPD pode oscilar entre coligar-se com Merkel (reeditando a experiência de 2005-2009) ou constituir uma frente de esquerda com os Verdes e o Partido da Esquerda.
Mϋnchau mostra que a coligação Merkel-SPD só poderia tornar-se estável, no sentido de que nenhum dos partidos teria interesse em quebrar a coligação, se o Alternative fϋr Deutschland (não europeísta e favorável a uma implosão do euro) conseguisse atingir o limiar dos 5% para uma representação parlamentar e os Liberais não a perdessem.
Considerando o cenário mais provável da atual coligação conseguir uma ligeira maioria, a situação que pode ser antecipar-se está longe de poder considerar-se estável, o que significa que o pós setembro pode ser uma ilusão em termos europeus. Merkel pode estar mais condicionada do que nunca. Não será difícil imaginar nesse contexto quão errática passará a ser de novo a trajetória europeia.
Por isso, esperar por setembro corre o risco de transformar-se numa inconsequente esperança.

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