quarta-feira, 11 de setembro de 2013

LA VIA CATALANA



Tal como há um ano, o cordão humano que hoje percorreu a Catalunha constitui uma manifestação cívica impressionante de afirmação de identidade e porque não dizê-lo de afirmação de independência.
Por mais estranho que pareça, a queda em 1714 de Barcelona perante o cerco das tropas franco-espanholas de Filipe V depois de uma resistência de cerca de 14 meses está no inconsciente e no imaginário de muitas daquelas pessoas indiferenciadas que protagonizaram o cordão humano. Para uma rápida digressão sobre esse dramático acontecimento histórico, o artigo de Carles Geli no El País de hoje é uma boa companhia.
Mas, paradoxo dos paradoxos, uma manifestação de força cívica tão impressionante a que nem o governo de Rajoy poderá ficar indiferente coexiste hoje com uma encruzilhada de grande indeterminação para o nacionalismo independentista catalão. É verdade que a CiU continua a revelar apesar dos escândalos financeiros e de corrupção em que tem mergulhado uma poderosa capacidade de mobilização. No entanto, a impossibilidade prática de acomodar o projeto nacionalista e independentista no quadro constitucional espanhol (afinal o direito de secessão não poderia nunca ser outorgado por esse quadro institucional que procurou preservar na medida do possível a única via possível, a da Espanha das nações) lança inevitavelmente o projeto nacionalista num autêntico cul de sac. A luta obstinada por um referendo provavelmente centrado num sim ou não à independência lançará a Catalunha e a própria Espanha numa situação de difícil concertação política.
Artur Mas será provavelmente uma das piores lideranças que a CiU logrou colocar no centro das operações. A situação é complexa e contraditória. Enquanto negoceia com Rajoy não se sabe bem o quê, um dos seus membros do governo regional (o Conselheiro da Cultura Ferran Mascarell i Canalda) declara alto e bom som que a Espanha é uma anomalia histórica, o que diz bem da instabilidade no próprio seio da Generalitat que toda esta situação tem vindo a criar.
A história tem destas coisas: o problema catalão rebenta na mão de um poder cuja força política que governa, o PP, sempre teve dificuldade em assumir o projeto constitucional da Espanha das nações.
E para apimentar tudo isto o Aeroporto de Barcelona ultrapassou pela primeira vez na história o tráfego do aeroporto de Madrid em profundo declínio, batendo todos os seus records de movimento de passageiros. Em paralelo com tudo isto, as redes sociais espanholas gozam até à exaustão com o inglês do discurso de Ana Botella (a senhora Aznar), presidente da Câmara de Madrid, ele (discurso) próprio a evidência mais trágica de que Madrid já não “vende”. Um grande lio está aqui formado e não me parece que o centralismo do PP, depauperado com as más companhias de ex-tesoureiros, tenha habilidade política e diplomática para adocicar o nacionalismo independentista. Que falta nos faz Manuel Vásquez Montalbán, na pele ou não do empedernido catalão Pepe Carballo, para nos ajudar a compreender tudo isto.

1 comentário:

  1. Carvalho. Pepe Carvalho. Galego de origem, catalão de vida e coração, universal de espírito.

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