À medida que vou envelhecendo, cada vez mais abordo os meus momentos de presença em certos eventos sociais de forma semelhante aos meus tempos de viagens aéreas, i.e., como formas random de aprendizagem. Já que tudo depende das leituras que me são proporcionadas, num caso, e dos companheiros que me calham nas mesas, do outro. Cada tolo…
Pois, desta vez, falaram-me da Noruega vista por dentro. Um tema que se tornou quase obrigatório por uma conjugação de razões, entre as quais ressaltam as altas funções por lá ocupadas pela dama que se sentava à minha direita e as eleições por lá recém-ocorridas. Aqui reproduzo algumas impressões recolhidas e alguns dados posteriormente investigados.
Comecemos pela aritmética eleitoral (sintetizada na imagem abaixo). O Partido Trabalhista, no governo há oito anos sob a chefia de Jens Stoltenberg (em coligação de centro-esquerda), foi o mais votado (30,8% e 55 assentos parlamentares), mas uma renovação da coligação não lhe permitiria atingir mais do que 72 lugares (dos 85 necessários a uma maioria absoluta). Assim, a líder do segundo partido mais votado (“A Direita”), Erna Solberg ou “Erna de Ferro” como é conhecida pela admiração política que nutre por Thatcher e Merkel (caricatura acima), deverá formar um governo de coligação alternativo através de acordos complexos, e ainda em aberto, com as restantes formações políticas conservadoras (populistas, democratas-cristãos e liberais) que conseguiram eleger deputados (96 no total).
Mais substantivamente, registe-se quanto o que se está a passar na Noruega não é de todo compaginável com os tempos de crise que estamos a atravessar. Por um lado, porque o país parece sentado em cima das enormes receitas de petróleo de que dispõe, fruindo da sua riqueza e fechando-se ao estado do mundo num crescente autocentramento – mais liberalismo e menos solidariedade, digamos, numa boa síntese.
Por outro lado, porque os pouco mais de cinco milhões de cidadãos noruegueses se podem dar ao luxo de praticar a democracia eleitoral em toda a sua plenitude, castigando balanços objetivamente bem-sucedidos e que fariam a felicidade de qualquer país europeu (os indicadores macroeconómicos estão bem no verde, com a taxa de desemprego a um nível inferior a 4%).
Por fim, porque os grandes temas de debate público se centram em três grandes áreas relativamente improváveis: a alteração ou não da regra de utilização anual de apenas 4% do valor do fundo petrolífero (com os dois maiores partidos a sustentarem a manutenção e o Partido do Progresso a defender o respetivo aumento); a aceitação ou não da exploração de petróleo e gás nas até agora intocáveis Ilhas Loften (no Ártico), ricas em bacalhau e verdadeiro paraíso ambiental e turístico; o endurecimento ou não da política de imigração (com o Partido do Progresso, que outrora Breivik abandonou por moderado e agora chegará pela primeira vez ao poder, a insistir em fazer disso deal-break negocial para a formação do novo governo).
Ainda assim, os estrategas políticos mais precavidos (?) apelam a que se atente em que, à medida que os campos do Mar do Norte vão amadurecendo, a produção de petróleo tenderá a conhecer uma diminuição gradual (2013 é já referido como o ano em que se atingirá o ponto mais baixo em 25 anos) e poderá chegar a limites indesejáveis de esgotamento dentro de 20 anos (surgiram já previsões de um recurso ao endividamento por parte do Governo a partir de 2035, pasme-se!).
Há quem antecipe a necessidade de soluções que passem por uma dupla e simultânea aposta numa busca mais intensiva de novas explorações e numa urgente diversificação da economia, para além de algumas possíveis jogadas de antecipação (introdução de um imposto sobre a riqueza e medidas no plano da saúde e da segurança social, designadamente visando as reformas a médio prazo) em defesa contra os riscos que o aumento da esperança de vida fará repercutir sobre as gerações futuras. E há também cada vez mais quem pugne por um maior volume de investimento no interior do país por parte do gigantesco fundo soberano norueguês (as infraestruturas rodoviárias e ferroviárias são, por exemplo e ao que parece, estranhamente más para um país de tão elevado nível de desenvolvimento).
Mas será que um país que dispõe de um fundo soberano com ativos espalhados mundialmente e estimados em 560 mil milhões de euros tem mesmo de obedecer aos ditames da sua enraízada “cultura” e de assim enfrentar as questões que se lhe deparam (ou podem eventualmente deparar) com um tal grau de zelosa rigidez? Ou estarão os noruegueses tão conscientes da elevada dose de acaso que subitamente os enriqueceu que não querem excluir a hipótese de viragens da sorte em sentido contrário, delas se pretendendo resguardar ao máximo? Defeito, virtude ou feitio?
Por outro lado, porque os pouco mais de cinco milhões de cidadãos noruegueses se podem dar ao luxo de praticar a democracia eleitoral em toda a sua plenitude, castigando balanços objetivamente bem-sucedidos e que fariam a felicidade de qualquer país europeu (os indicadores macroeconómicos estão bem no verde, com a taxa de desemprego a um nível inferior a 4%).
Por fim, porque os grandes temas de debate público se centram em três grandes áreas relativamente improváveis: a alteração ou não da regra de utilização anual de apenas 4% do valor do fundo petrolífero (com os dois maiores partidos a sustentarem a manutenção e o Partido do Progresso a defender o respetivo aumento); a aceitação ou não da exploração de petróleo e gás nas até agora intocáveis Ilhas Loften (no Ártico), ricas em bacalhau e verdadeiro paraíso ambiental e turístico; o endurecimento ou não da política de imigração (com o Partido do Progresso, que outrora Breivik abandonou por moderado e agora chegará pela primeira vez ao poder, a insistir em fazer disso deal-break negocial para a formação do novo governo).
Ainda assim, os estrategas políticos mais precavidos (?) apelam a que se atente em que, à medida que os campos do Mar do Norte vão amadurecendo, a produção de petróleo tenderá a conhecer uma diminuição gradual (2013 é já referido como o ano em que se atingirá o ponto mais baixo em 25 anos) e poderá chegar a limites indesejáveis de esgotamento dentro de 20 anos (surgiram já previsões de um recurso ao endividamento por parte do Governo a partir de 2035, pasme-se!).
Há quem antecipe a necessidade de soluções que passem por uma dupla e simultânea aposta numa busca mais intensiva de novas explorações e numa urgente diversificação da economia, para além de algumas possíveis jogadas de antecipação (introdução de um imposto sobre a riqueza e medidas no plano da saúde e da segurança social, designadamente visando as reformas a médio prazo) em defesa contra os riscos que o aumento da esperança de vida fará repercutir sobre as gerações futuras. E há também cada vez mais quem pugne por um maior volume de investimento no interior do país por parte do gigantesco fundo soberano norueguês (as infraestruturas rodoviárias e ferroviárias são, por exemplo e ao que parece, estranhamente más para um país de tão elevado nível de desenvolvimento).
Mas será que um país que dispõe de um fundo soberano com ativos espalhados mundialmente e estimados em 560 mil milhões de euros tem mesmo de obedecer aos ditames da sua enraízada “cultura” e de assim enfrentar as questões que se lhe deparam (ou podem eventualmente deparar) com um tal grau de zelosa rigidez? Ou estarão os noruegueses tão conscientes da elevada dose de acaso que subitamente os enriqueceu que não querem excluir a hipótese de viragens da sorte em sentido contrário, delas se pretendendo resguardar ao máximo? Defeito, virtude ou feitio?
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