quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O “SEMPRE EM PÉ”

 
Durão tomou a palavra esta manhã, em Estrasburgo, para o seu quarto e último discurso sobre “O Estado da União”.

Veio impregnado de otimismo – “estamos a ver que é possível ganhar esta batalha” e “os países mais vulneráveis começam a apresentar resultados positivos” –, bem instruído em demagogia – “muitos dos nossos cidadãos pensam que estamos a perder terreno a nível mundial, mas nós aumentámos o nosso excedente, mais 300 mil milhões de euros por ano” e “um ano do orçamento europeu é maior do que todo o Plano Marshall” – e cioso da sua dama – “a União Europeia não esteve na origem da crise, esta resulta sim de uma má gestão das finanças dos vários governos e de um comportamento irresponsável dos mercados”. E, nos bastidores comunicacionais, não se eximiu ainda ao recadinho autoritário para português ver: “o que Portugal tem de fazer é ganhar a confiança dos investidores, para poder voltar a uma situação de normalidade financeira”, colocando a tónica na questão de se saber “se Portugal vai ou não cumprir os objetivos a que se comprometeu” e “recuperar a credibilidade”.

Este camarada fez a sua formação política nas páginas do “Luta Popular”; era então um jovem fogoso e um fervoroso aprendiz de vulgatas revolucionárias. E, ao que tudo indica, reteve desses tempos a leninista “análise concreta da situação concreta” – que interpreta como tática de conformação à relação conjuntural de forças, vulgo “estar a favor do vento” – e a maoista “estratégia de resistência prolongada” – que confunde com um somatório de flexibilidade e conservação das forças próprias, vulgo “é importante mudar de tática oportuna e apropriadamente”.

Explico-me, sem precisar de recuar muito no tempo: ainda há pouco mais de três meses, Durão sustentava que “estamos a atingir o limite das atuais políticas”, defendia que “há limites para aquilo que se pode conseguir com uma política de contração orçamental” e afirmava: “politica e socialmente, uma política que é apenas vista como austeridade é claro que não é sustentável”. Também entendia na ocasião que “não fizemos tudo bem” e que “precisamos de uma política que seja correta, mas, ao mesmo tempo, precisamos de ter os meios para a sua implementação e aceitação política e social”. E argumentava ainda que “existe o risco real de polarização na Europa”, mostrando-se “profundamente preocupado com as divisões [os extremos políticos e os populismos, a desunião entre centro e periferia da Europa, a renovada demarcação entre Norte e Sul] que estão a surgir” e manifestando a sua recusa de quaisquer fatalismos ou inferioridades condenatórias dos povos do sul (“temos de evitar na Europa toda a espécie de preconceitos”).

Será que o revisionismo de Durão também se estendeu a uma leitura muito pessoal do belo poema de inspiração camoniana musicado por José Mário Branco (“Mas se todo o mundo é composto de mudança / Troquemo-lhes as voltas que ainda o dia é uma criança”)?

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