Abro com uma incontornável declaração de interesses: sou amigo próximo de Fernando Teixeira dos Santos (FTS) há quase quarenta anos e tenho por ele a maior das considerações pessoais e com ele inapagáveis trajetos comuns.
Prossigo com uma explicação: após ter sido o ministro português das Finanças com maior longevidade em democracia e aquele que ocupava a pasta aquando do pedido de resgate e depois de um prudente e azado silêncio de dois anos, FTS não resistiu a voltar à cena pública e a multiplicar-se em intervenções diversas e a assumir a sua regularidade no quadro de um programa televisivo semanal – pessoalmente, tenho-o vindo a seguir, algo atónito, atacando os temas mais candentes com incursões que constituem verdadeiras e impossíveis “quadraturas do círculo”.
Explicito o pretexto próximo: chegado de Bruxelas, deparo-me com uma grande entrevista de FTS ao “Jornal de Negócios”, que leio interessadamente e vem confirmar certos sobressaltos cujas manifestações concretas e em voz alta vinha receando (vejam-se algumas das muitas razões para tal nos títulos chamados a capa).
Confesso a minha evolução de uma irritada reação a quente para uma reflexão mais fina, na procura de motivos para o meu indisfarçável incómodo (ilustro com afirmações assentes na tímida possibilidade de obtenção de rendimentos marginais positivos, tais como “a única coisa relativamente à qual serei crítico em relação ao Governo” ou “acho que tínhamos de fazer isso com um sentido de equidade social diferente”) e a despeito dos vários pontos de acordo que necessariamente também encontro em relação às opiniões de FTS.
Formulo uma hipótese conclusiva em quatro tópicos: a água não passa duas vezes debaixo da mesma ponte, só raramente os bons políticos são bons técnicos ou os bons técnicos são bons políticos, é absolutamente irresistível a pujança unificadora alcançada pelo mainstream que tomou de assalto o pensamento económico, há uma manifesta urgência de estruturação e divulgação de um discurso político-económico com dimensão alternativa.
Tanto conhecimento disperso, tanta energia mobilizável, tanta rendição escusada, toda uma agenda por cumprir...
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