segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

TARANTINO SEMPRE


O oitavo filme de Quentin Tarantino não será, a meu ver, o melhor dos sempre magistrais trabalhos assinados por esse notável e inconfundível realizador e argumentista. Mas é um Tarantino q.b. – com todo aquele mix de ação, humor, violência e provocação que faz o seu cada vez mais fascinante e tecnicamente refinado cinema –, imperdível por isso mesmo. O cenário é, desta vez, o velho Oeste no imediato pós-Guerra Civil americana expondo, como alguém escreveu, “uma nação inteira numa única sala” (o caçador de recompensas, o carrasco enforcador, o confederado, o xerife, o mexicano, o homem pequeno, o vaqueiro e a prisioneira). E contando ainda com o génio musical de Morricone a enquadrar aquelas simultaneamente calmas e perturbantes paisagens nevosas e a dar corpo às excelentes prestações de Samuel L. Jackson, Jennifer Jason Leigh, Kurt Russell e seus pares. Venha o nono!


AS BIELAS ALEMÃS PARECEM DETERIORADAS




(Uma simples analogia mecânica para sintetizar as agruras proféticas sobre o crescimento europeu)

 Sempre fui um ignorante das questões de mecânica automóvel, talvez de toda a mecânica, para ser mais rigoroso. Por isso ficava pasmado quando alguém diante de uma anomalia numa viatura a decifrava sem dificuldade. E recordo-me de muitos pronunciando firmes o veredicto de que tudo se devia ao mau estado das bielas. Na minha ignorância e trocando os bês pelos vês atrevia—me a pensar que seria algo de tortuoso dentro de motor que deixara de funcionar.

A analogia veio-me à cabeça quando hoje lia os maus prenúncios de Gavyn Davies no Financial Times. Apoiado nos seus modelos “Fulcrum nowcast”, que, diga-se, anteciparam bem a desaceleração do crescimento da economia americana, situando-o em torno de um raquítico 1%, Davies traz para o debate a extensão dessas previsões de crescimento raquítico e em desaceleração para a zona Euro. A previsão atualizada passa para apenas 0,8% de crescimento anual e a Goldman Sachs avança também com a sua própria previsão, mais baixa do que a da Fulcrum , que aponta para uns míseros 0,4%. Parece assim confirmar-se que a economia americana precede a europeia de alguns meses em termos de comportamento macroeconómico.

Mas o que para mim é mais sintomático é que a perturbação do crescimento europeu tem um dos seus epicentros na Alemanha, que os mais solícitos estão sempre dispostos a considerar o motor do crescimento económico europeu, apoiando o seu veredicto na poderosa indústria transformadora que os alemães teceram anos a fio. Pois um veredicto amador diria que as bielas alemãs estão com problemas e já não falamos na maneira como os gigantes do automóvel alemão recuperarão do aperto nos calos que tiveram com a rábula das emissões que afinal eram fraudulentamente mais elevadas do que se pensava.

Na economia mundial parece que estamos naquelas corridas de ciclismo em que os protagonistas de uma dada fuga ou mesmo do pelotão se recusam a assumir o papel de motores da corrida. A economia mundial parece olhar mais para o carro vassoura do que para a frente do pelotão. E os responsáveis pela sua gestão macroeconómica parecem incapazes de compreender as verdadeiras razões da permanente avaria. Claro que os intolerantes defensores da pureza orçamental continuarão a achar que o mundo está assim porque não tem as contas públicas disciplinadas. Miopia, estigmatismo ou simplesmente cegueira intelectual vão conduzindo o mundo para um precipício desnecessário.

Por cá, alguns críticos do governo de Costa já deram conta que o mundo da procura global não está para grandes flores. Mas não deram ainda o passo decisivo para entenderem que o estado económico do mundo não é indiferente ao modo como tem sido gerido.

Os modelos da Fulcrum não falam ainda de recessão. Mas se esta descida em baixa continuada das previsões de crescimento continuar a ser entendida como simples sinais conjunturais não me admiraria que estivesse aí à porta uma nova recessão, depois de algo que não chegou a ser uma verdadeira recuperação.


Curiosamente, por uma outra via, o progressista Social Europe vem dizer-nos num novo estudo que comecei a ler que todo o catastrofismo invocado para zurzir na pobre senhora Merkel que teve de aceitar o estabelecimento do salário mínimo em 1 de janeiro de 2015, imposto pelos seus colegas social-democratas de coligação, falhou redondamente. O emprego prosseguiu uma trajetória continuada e sustentada de crescimento. E até os célebres mini-jobs alemães, trabalhos de tempo parcial para jovens de baixa remuneração, tão criticados pelos franceses como exemplo de dumping social praticado pelos alemães, tenderam a reduzir a sua incidência, implicando passagens para postos de trabalho mais tradicionais.

Valha-nos isso pois as bielas deterioradas da indústria transformadora exigirão outro tipo de conserto.

IRRELEVÂNCIAS EM TOM LARANJA

(R. Reimão e Aníbal F, Elias O Sem Abrigo”, http://www.jn.pt)

Chega a meter dó ver Passos naquele seu permanente e titânico esforço para dar provas de vida – et pour cause... – e se apresentar como uma espécie de primo-ministeriável honoris causa. Simplesmente ridículo!


Entretanto, Alberto João – já em modo aposentado – não quis deixar de lhe augurar um futuro pouco risonho no partido, juntando ainda mais algum veneno em torno da ideia passista de prestígio internacional: “andar debaixo das saias da sra. Merkel”!


Por fim, um aviso à navegação: dobremos a língua porque o amigo e patrocinador Relvas acha que já passou o prazo para o seu curso ser impugnado. A crassa inoportunidade deste licenciado de secretaria, que agora também quer ser banqueiro, é de bradar aos céus!

A FALA DE TSIPRAS


Desde a sua capitulação (?) do Verão de 2014, quase só temos visto Alexis Tsipras em amenas cavaqueiras com os seus pares europeus no contexto dos interlúdios mediáticos dos Conselhos Europeus entretanto havidos. Pois parece que finalmente se fartou, assim se apresentando a denunciar veementemente a forma obscena como a Grécia tem sido tratada no dossiê dos refugiados e o cinismo doentio com que muitos Estados membros se vêm comportando no seio da chamada União – saúda-se o reaparecimento...