quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A GRANDE CONVERGÊNCIA





Richard Baldwin é um economista filho de Robert Baldwin um dos economistas do desenvolvimento com os quais me apetrechei em termos de formação na economia do desenvolvimento, sobretudo a partir do momento em que o pai Baldwin foi coautor com Gerald Meier de um dos primeiros manuais relevantes da disciplina.

Pois o filho Richard Baldwin, professor em Genebra no Institut of International and Development Studies e Diretor do CEPR de Londres, um importante centro de investigação com acesso privilegiado aos media europeus, publicou em fins de 2016 o que parece ser uma das mais sólidas e estimulantes interpretações do processo da globalização. O que é particularmente pertinente num período em que a globalização está sob fogo dos populismos à la Trump e em que os indicadores de medida do peso e dinâmica do comércio mundial e da sua relação com o produto mundial enfrentam desde há longo tempo os primeiros sinais de interrupção senão debloqueio.

A abordagem de Baldwin é também pertinente pelo facto de colocar a revolução das tecnologias da informação no centro de toda a análise, circunstância que preenche um vazio na literatura e que é curioso surgir num contexto em que mais do que noutros tempos se questiona a capacidade do progresso tecnológico assegurar de per si as condições para um crescimento mais do que anémico ou moderado.

Baldwin coloca-se do ponto de vista histórico das condições que dissociaram territorialmente a produção e o consumo, princípio básico para que o comércio internacional assuma o seu papel. A periodização que Baldwin faz da globalização tem em conta três tipos de movimentos, que constituem outros tantos processos ou dimensões da globalização: o movimento das mercadorias, o movimento das ideias e o movimento das pessoas. Três dimensões da globalização mas que não operaram em simultâneo, antes pelo contrário, antes ocorreram consoante as condições de maior facilitação desses processos. Com a evidência de que foi sempre mais difícil e custoso assegurar a movimentação das pessoas, mais difícil do que a das mercadorias nos tempos da revolução dos transportes e mais difícil do que a circulação das ideias em tempos de revolução das tecnologias de informação.

A longa fase que decorreu até cerca de 1990 é designada por Baldwin como The Great Convergence (A Grande Convergência), que dá o título ao livro, pois é no seu entender a circulação das ideias que faz emergir um grupo de economias emergentes que rapidamente ganharam uma quota considerável do comércio internacional à custa das economias do G7 e não das restantes economias. O grupo dos 6 integra a China, a Coreia do Sul, a Índia (não sei Costa já leu a Grande Convergência), a Polónia, a Indonésia e a Tailândia. Este grupo representa já hoje cerca de 30% do comércio global e o seu crescimento fez-se à custa do G7. Temos assim uma Grande Convergência algo de paradoxal, porque é manifestamente concentrada.

E a grande interrogação que permanece é que direções e rumos assumirá a tal nova globalização de que fala Baldwin. Será que o controlo remoto e à distância de robots e outros artefactos tecnológicos transferidos para economias emergentes vão poder contornar o sério constrangimento (apesar das viagens low cost) de que as relações face to face são mais custosas na economia global do que circulação de mercadorias e das próprias ideias?

É uma grande interrogação que fica para outro post.

Já agora há uma dimensão em parte ignorada por Baldwin acerca da explicação da concentração de efeitos apenas em seis economias. Estou a referir-me ao modo como tais economias se organizaram para beneficiar dessa circulação de ideias e provavelmente cada uma das seis economias será um caso de estudo, sendo até eventualmente impossível construir uma teoria geral para o seu êxito.

1 comentário:

  1. Caro Professor António Figueiredo,

    Obrigado por nos ir dando conta de algumas reflexões interessantes na área da Economia.

    Sendo admirador de Paul Romer, penso que uma leitura do artigo muito recente de Steve Keen na Review of Keynesian Economics (Vol. 5 No. 1, Spring 2017, pp. 107–111), vai dar-lhe algum gozo. O título, sugestivo, é "The WHO warns of outbreak of virulent new ‘Economic Reality’ virus".

    Cumprimentos,
    Manuel Castelo Branco

    ResponderEliminar