A América democrática e responsável organiza-se para fazer frente ao indesejável
populismo económico do Presidente eleito e o pensamento económico tem aqui um
papel decisivo na marcação rigorosa e fundamentada à mentira pura e simples.
A Econofact Network é uma rede
de economistas americanos que sistematiza evidência macro e microeconómica, destinada
a balizar o debate e a corrigir a mentira ardilosa nesta matéria, a que o Edward R. Murrow Center da Fletcher
School da Tufts Universit dá voz publicando essa informação.
Um dos temas favoritos de Trump é a mercantilização do comércio externo
americano, America First, a América
produz e consome. O gráfico que abre este post mostra que o crescimento económico
americano não deixou de acontecer e com ritmos pujantes quando o défice externo
americano esteve em níveis elevados. O contrário também aconteceu. Em períodos
de crescimento anémico o défice externo era mais baixo. O populismo económico é
perigoso ao reassumir o mercantilismo económico. O mundo reagirá e todos perdem.
Uma outra chave do populismo trumpiano é a questão do emprego industrial e
da sua perda em determinadas regiões americanas, afinal as principais em que os
argumentos do Presidente eleito penetraram. O gráfico acima mostra que a perda
do emprego na indústria transformadora se observa em simultâneo com o aumento
persistente do valor acrescentado industrial. O problema implícito é o do progresso
técnico e dos efeitos da automação no emprego. É um problema real mas o populismo
económico não tem arma para o combater, até porque dele beneficia enquanto
representante de interesses económicos bem identificados. O mundo ainda não se
adaptou aos efeitos da automação sobre o emprego. Noutras épocas, os efeitos foram
similares mas o período em que a destruição de emprego superou o aparecimento
de novos foi mais curto. Onde pode falar-se de novo de estagnação secular. Mas
o populismo económico odeia o pensamento.
Finalmente, o gráfico acima mostra que, apesar da emigração não autorizada
mexicana ser de elevada magnitude, a população mexicana que vive nessas condições
nos EUA tem estabilizado e está recentemente a diminuir. O que implica que o
problema não é o famigerado MURO, mas o que fazer com essa população que reside
e provavelmente trabalha na sociedade americana. E não nos esqueçamos que temos
população portuguesa nessas condições, que chegou com um visto turístico, foi
ficando, tem filhos americanos e vai trabalhando informalmente.
Ora, aqui está um trabalho de marcação rigorosa que os economistas podem
ajudar a construir de forma sistemática e implacável. O facto de não poderem ser
ouvidos é um outro problema. E aí não assaquemos culpas ao populismo. O problema
existe bem antes dele emergir, o que significa que não vale a pena assobiar
para o lado.
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