(Como eu entendo
os desabafos amargos de Pacheco Pereira em relação a todo o imbróglio em torno
do sistema financeiro, mas
o que mais me impressiona é a rapidez com que “competências” até agora intocáveis
vão caindo como tordos atingidos por atiradores furtivos, senão em desgraça,
pelo menos enrolados no erro e no seu contrário, a incompetência)
Bem podem as empresas pugnar por uma presença mais resiliente na economia
global de todas as incertezas, explorar novos mercados com imaginação e persistência.
Bem podem os sistemas de incentivos disponibilizados pelo Portugal 2020 tentar estimular
investimento empresarial, fundamental para um novo fôlego de exportações, concretizado
não apenas com aproveitamento de capacidade produtiva não utilizada. Bem pode o
ministro Vieira da Silva criar condições para alguma acalmia na contratação
coletiva, oferecendo alguma coisa aos empresários para consolidar confiança e
sustentar emprego. Bem podem prosseguir os esforços de muitos para transferir e
valorizar conhecimento científico e tecnológico. Bem pode a criatividade dos start-up’s digitais e tecnológicos ir
disseminando uma nova cultura de empreendimento, capaz de atrair investimento
internacional. Tudo isso é relevante e necessário para ir criando uma lufada de
ar fresco no sistema produtivo nacional, rejuvenescendo-o, diversificando-o. Mas
parece que continuamos suspensos de uma espada qualquer que cortará rente todas
as promessas do rejuvenescimento e da inovação e essa espada é a trampa do
sistema financeiro.
Os novos desenvolvimentos da Caixa Geral de Depósitos e da experiência algo
patológica em torno da venda do Novo Banco vão-nos moendo a paciência e
suscitando de novo a sensação de que alguém nos irá ao bolso, de que estamos a
ser cobaias de negociadores de pacotilha (alguém me explica o que é que Sérgio
Monteiro, o amigo de Mangualde de Jorge Coelho, anda a fazer em todo o processo
de venda do Novo Banco?) e de instituições europeias aos bonés, encantados por
experimentar estas matéria com uns tipos pacíficos da ponta ocidental.
Na Caixa Geral de Depósitos, valha-nos isso, António Domingues lá conseguiu
uma saída de elegância no meio de todo este processo. Centeno e o ministério das
Finanças têm conseguido algo de espantoso que é com o seu desatino conseguir
que o PSD seja aliviado da sua enorme responsabilidade por inação em todo o
processo da Caixa, abrindo brecha após brecha numa solução que globalmente foi
vitoriosa para o atual governo.
Quanto ao Novo Banco, a dimensão dos erros é calamitosa. Tenho informações
que a operação corrente do banco continua a ser bem recebida pelas empresas que
se mantiveram na alçada do crédito por ela concedido. Não se entende que razões
são invocadas pelos potenciais candidatos à sua compra para justificar a
necessidade de garantias do Estado, aparentemente recusadas pelo governo de
candeias às avessas com o Banco de Portugal. Serão os riscos de não venda aos
valores de balanço da caterva de ativos que não se entende o que estão a fazer
no balanço de um banco que determinam essa exigência? Ou serão imparidades que
foram alocadas ao banco bom numa pressa executória e que melhor estariam se tivessem
sido afetadas ao banco mau?
O sistema financeiro vai matando uma a uma as competências iluminadas e tão
apreciadas pelo jornalismo económico deste país. A situação degradou-se tanto
que até um José Maria Ricciardi aparece tal qual virgem donzela a denunciar o
descalabro da aceitação de venda do Novo Banco a um fundo de investimento
imobiliário especializado em ganhar dinheiro com instituições em dificuldades. O
processo é destruidor. A elite financeira anda pelas ruas da amargura. No meio
desta tempestade de incompetência poucos se salvarão e, se nos forem ao bolso,
os problemas da arbitragem no futebol serão uma história de criancinhas quando
comparados com o repúdio que tal situação pode provocar na população cansada de
colmatar erros alheios com os seus salários ou pensões. Lembro-me agora que
talvez apenas Miguel Cadilhe esteja resguardado de toda esta obsolescência acelerada
de elites. Chapéu para ele.
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