(asdcavir)
(Uma estranha
sensação de indiferença começa a formar-se no meu pensamento e a razão é apenas
uma, em qualquer uma das
modalidades a escolher emerge a certeza de alguém nos irá ao bolso e de que só
há más soluções)
O fim-de-semana editorial coloca a questão da venda do Novo Banco como foco
de todas as atenções. À medida que se vai conhecendo que o interesse pela
compra do Novo Banco está limitada a uma espécie de fundos-abutre ou a capitais
de duvidosa formação e que o projeto de resolução do BES inventado pelas
autoridades europeias e complacência do Banco e Portugal se revelou uma
experiência laboratorial com fortes danos colaterais, vão saindo do armário as
mais diversas propostas de mudança de agulha.
A afirmação de Carlos César de que as propostas para a compra do Novo Banco
são vexatórias traz o PS à liça, incomodado por depois de ter aparentemente
resolvido a questão da recapitalização da Caixa ter agora de acolher esta bomba
de destruição lenta e programada em que a venda do Novo Banco se transformou.
César não é dos que fala em vão, tem peso e maturidade que baste para produzir
sentido nas palavras que profere. Mas a acusação de que os rumos da negociação
estão a transformar-se em algo de vexatório suscita o problema de como e para
onde mudar de rumo em todo este processo.
A hipótese de nacionalização teria de regressar inevitavelmente e em força.
Mas é de uma nacionalização de transição que se fala. Ninguém se chegou à
frente admitindo a hipótese de fusão com a CGD e agravar os problemas desta
última. Por isso, para além de mais uma ronda negocial com Bruxelas, seria uma
nacionalização para reestruturar e tornar mais apelativa a futura privatização,
com injeção de dinheiro público que a experiência mostra ser dificilmente
recuperável na sua totalidade. E, muito sinceramente, banca pública não me
consegue fazer afastar a ideia de que me irão ao bolso, na próxima
oportunidade. Infelizmente, a experiência diz-nos que quanto mais banca pública
mais provável é a imaginação do capitalismo de compadrio que se passeou pelas
malhas da decisão de crédito da Caixa.
João Vieira Pereira no Expresso avança com a palavra que ninguém até agora
foi capaz de proferir, liquidação. Não tenho competência nem conhecimento
bastantes para discernir com rigor se uma liquidação a prazo permitirá
assegurar condições para reembolsar o Fundo de Resolução e preservar a
intervenção dos contribuintes. Teria a liquidação impacto sistémico? Não
poderia a CGD ocupar o espaço do Novo Banco que desapareceria a prazo sem grandes
sobressaltos para preservar o que o mercado reconhece ser uma capacidade de
operação avaliada positivamente pelo sistema de PME?
Finalmente, Nicolau Santos também no Expresso recomenda a negociação de
mais tempo para assegurar uma venda menos dolosa e “vexatória” e a continuação
dos esforços de reestruturação a cargo do atual CEO António Ramalho. É
aparentemente a solução mais sensata mas a injeção no horizonte de curto prazo
de 750 milhões de euros é uma espinha séria nesta alternativa.
O cansaço é grande e a nebulosidade de todas as alternativas é deprimente.
Em contexto de tanto apego pela capacidade de assumir riscos, pergunto-me
por que razão o contrato de assessoria com Sérgio Monteiro não estava sujeito a
cláusulas de objetivos, designadamente as condições obtidas para a venda? Há
tantos liberais de pacotilha neste país. Risco e empreendimento é para os
outros. Já alguém no Banco de Portugal se interrogou sobre os resultados do
contrato de assessoria de Sérgio Monteiro? Aliás, para o meu nariz sensível, a
associação à venda do Novo Banco de um dos mais controversos membros do Governo
anterior, um dos mais assanhados defensores da alavanca que a Troika
representava para as mudanças que se pretendia atingir, representa uma das mais
intrigantes decisões do Banco de Portugal na transição do governo PAF para a
atual solução de governo.
Perguntar não ofende e ainda temos esse direito.
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