sábado, 7 de janeiro de 2017

LIQUIDAR, NACIONALIZAR … OU ADIAR

(asdcavir)



(Uma estranha sensação de indiferença começa a formar-se no meu pensamento e a razão é apenas uma, em qualquer uma das modalidades a escolher emerge a certeza de alguém nos irá ao bolso e de que só há más soluções)

O fim-de-semana editorial coloca a questão da venda do Novo Banco como foco de todas as atenções. À medida que se vai conhecendo que o interesse pela compra do Novo Banco está limitada a uma espécie de fundos-abutre ou a capitais de duvidosa formação e que o projeto de resolução do BES inventado pelas autoridades europeias e complacência do Banco e Portugal se revelou uma experiência laboratorial com fortes danos colaterais, vão saindo do armário as mais diversas propostas de mudança de agulha.

A afirmação de Carlos César de que as propostas para a compra do Novo Banco são vexatórias traz o PS à liça, incomodado por depois de ter aparentemente resolvido a questão da recapitalização da Caixa ter agora de acolher esta bomba de destruição lenta e programada em que a venda do Novo Banco se transformou. César não é dos que fala em vão, tem peso e maturidade que baste para produzir sentido nas palavras que profere. Mas a acusação de que os rumos da negociação estão a transformar-se em algo de vexatório suscita o problema de como e para onde mudar de rumo em todo este processo.

A hipótese de nacionalização teria de regressar inevitavelmente e em força. Mas é de uma nacionalização de transição que se fala. Ninguém se chegou à frente admitindo a hipótese de fusão com a CGD e agravar os problemas desta última. Por isso, para além de mais uma ronda negocial com Bruxelas, seria uma nacionalização para reestruturar e tornar mais apelativa a futura privatização, com injeção de dinheiro público que a experiência mostra ser dificilmente recuperável na sua totalidade. E, muito sinceramente, banca pública não me consegue fazer afastar a ideia de que me irão ao bolso, na próxima oportunidade. Infelizmente, a experiência diz-nos que quanto mais banca pública mais provável é a imaginação do capitalismo de compadrio que se passeou pelas malhas da decisão de crédito da Caixa.

João Vieira Pereira no Expresso avança com a palavra que ninguém até agora foi capaz de proferir, liquidação. Não tenho competência nem conhecimento bastantes para discernir com rigor se uma liquidação a prazo permitirá assegurar condições para reembolsar o Fundo de Resolução e preservar a intervenção dos contribuintes. Teria a liquidação impacto sistémico? Não poderia a CGD ocupar o espaço do Novo Banco que desapareceria a prazo sem grandes sobressaltos para preservar o que o mercado reconhece ser uma capacidade de operação avaliada positivamente pelo sistema de PME?

Finalmente, Nicolau Santos também no Expresso recomenda a negociação de mais tempo para assegurar uma venda menos dolosa e “vexatória” e a continuação dos esforços de reestruturação a cargo do atual CEO António Ramalho. É aparentemente a solução mais sensata mas a injeção no horizonte de curto prazo de 750 milhões de euros é uma espinha séria nesta alternativa.

O cansaço é grande e a nebulosidade de todas as alternativas é deprimente.

Em contexto de tanto apego pela capacidade de assumir riscos, pergunto-me por que razão o contrato de assessoria com Sérgio Monteiro não estava sujeito a cláusulas de objetivos, designadamente as condições obtidas para a venda? Há tantos liberais de pacotilha neste país. Risco e empreendimento é para os outros. Já alguém no Banco de Portugal se interrogou sobre os resultados do contrato de assessoria de Sérgio Monteiro? Aliás, para o meu nariz sensível, a associação à venda do Novo Banco de um dos mais controversos membros do Governo anterior, um dos mais assanhados defensores da alavanca que a Troika representava para as mudanças que se pretendia atingir, representa uma das mais intrigantes decisões do Banco de Portugal na transição do governo PAF para a atual solução de governo.

Perguntar não ofende e ainda temos esse direito.

Sem comentários:

Enviar um comentário