É confrangedor e deplorável aquilo a que de há semanas estamos a assistir em Portugal a propósito das mais recentes evoluções relativas ao processo de venda do Novo Banco. Falo da informação publicada, do comentário especializado e da tomada de posição política, tudo com inevitáveis reflexos na (desin)formação da opinião pública. Poucos sabem o que dizem, quase nenhuns dizem com o devido conhecimento de causa, escassíssimos dizem sem a prioritária determinação de escapadelas parcelares ou de zurzidelas despropositadas, ninguém vai realmente ao âmago da questão e cumpre mínimos de objetividade e rigor. Além de que certos vícios lusitanos modernistas, como o do império de um falatório inconsequente e de um show-off quase suburbano ou o do primado de dimensões normativas e moralistas (sempre com aquele “nós a pagar” a vir à boca, alegadamente em prol do contribuinte), acrescentam mais uns pontos à desoladora paisagem em apreço.
Já há mesmo quem comece a aparecer querendo contrariar descontextualizadamente o bem fundado da resolução do BES, como até também já há ex-responsáveis do BES que vão surgindo a defender descaradamente a nacionalização do Novo Banco. As restrições impostas pelo BCE, a situação do mercado financeiro e bancário na Europa e em Portugal, as rígidas exigências e regras dos concursos internacionais, as limitações governamentais associadas à imperiosidade de obrigações em termos de défice e dívida, por um lado, ou os dados quantitativos concretos e as consequentes contas bem feitas a partir deles (incluindo a atual significância efetiva e potencial daquele que era o terceiro maior banco português e os custos comparados das várias opções (?) em presença), por outro lado, são matérias que entre outras passam amplamente ao largo das desligadas preocupações dos sabichões e doutrinadores que incessantemente nos entram casa dentro sem que sequer ao menos se dignem passar os olhos pelo que se diz no exterior ou pelo que opinam experts reputados (exemplifico com um excerto recentemente obtido do “Financial Times”).
E depois... bem, depois, há também um resto que não é nada pequeno: então e o capital? Só comunicados redondos e estéreis preenchendo um imenso vazio de propostas diferentes, construtivas e patrióticas? Não seria esta uma boa ocasião para que alguém se juntasse à voz isolada de Tiago Violas Ferreira (ainda que não me seja muito percetível o que o move e se tem unhas para tocar a guitarra a que parece apontar)? Apesar de longe já irem estando os tempos dos grupos nacionalistas dedicados e de Amorim e Belmiro já estarem fora de jogo, onde param aqueles espalha-brasas que tanto gostam de se alcandorar a expoentes do capitalismo português? E não sairão também nunca da toca alguns dos que, meritoriamente e muito pela calada, fizeram obra e uma razoável fortuna? Tem de ser zero mesmo?
Tempos difíceis e, mais que tudo, angustiantes...
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