(Às vozes que
clamam que Theresa May está a fazer bluff com as ameaças realizadas às futuras negociações
com Bruxelas do BREXIT diria que tal posição é má conselheira, não esquecendo a incerteza do que sairá de uma
eventual aliança entre May e Trump em termos de curto-circuito à Europa
fragilizada…)
Com aquele ar de mulher de meia-idade que aspira a impressionar a populaça
com os seus ares de firmeza preparada, Theresa May ousou finalmente pôr as
garras de fora e ameaçar os Europeus de que pode fazer estragos nas negociações
acaso elas não conduzam aos resultados que pretende. E na sua declaração de hostilidades,
que foi pintada de várias cores, claras com punhos de diplomacia e carregadas com
argumentos e decisões e bazuca em riste, May clarificou essencialmente uma
dimensão e deixou no ar uma grande ameaça-incerteza.
O esclarecimento consistiu em definitivamente abandonar a ideia que alguns ingénuos
lhe atribuíam de que o Brexit para os conservadores significava ficar dentro do
mercado único numa espécie de modelo em fio de navalha. A opção está tomada mesmo
que tenha de enfrentar o que para si é provavelmente a maçada de enfrentar o
parlamento para poder solicitar a Bruxelas o início das negociações para a consumação
da saída.
A incerteza-ameaça radica nos termos velados de poder transformar o Reino
Unido numa Singapura do Ocidente, desregulando, reduzindo impostos quanto baste
e valorizando o papel da sua praça financeira.
A tese do bluff assumida por uma Europa fragilizada e à deriva, com uma grande
parte dos socialismos europeus em agonia, senão em via acelerada de extinção como
as eleições primárias em França o têm cabalmente demonstrado, é perigosa. Para
além disso, terá de contar com uma possível tentativa de marginalização da União
Europeia que poderá sair de uma eventual aproximação entre os conservadores de
May e o faroeste de Trump e sua canga agora instalados na Casa Branca. Gente
bem mais avisada do que algumas aves canoras de Bruxelas, como Wolfgand Münchau (ver link aqui),
insistem na necessidade de se conseguir uma negociação equilibrada sob pena dos
efeitos destruidores e de desagregação da União Europeia poderem ser superiores
à conta indemnizatória que o Reino Unido terá em princípio de pagar, que não
será pequena diga-se.
Estou com extrema curiosidade em seguir o rumo das negociações do ponto de
vista da pretensão dos britânicos em procurar negociar alguns setores isoladamente
como o automóvel por exemplo. Imagino o cabo dos trabalhos tentar impor uma
negociação com um critério setorial num mundo dominado pelas cadeias de valor
globais em que a indústria automóvel é um exemplo refinado.
E do ponto de vista político imagino o que vai ser a pressão determinada
pelo ambiente de incerteza que acompanhará o prolongamento das negociações que irá
abater-se sobre os conservadores.
Singapura do Ocidente? Espero que os conservadores compreendam que a redução
abrupta de impostos que esse modelo configuraria terá obviamente fortíssimas
implicações sobre a massa de despesa pública financiável. Eu sei que a
ideologia pode comprar muita coisa, mas os conservadores terão compreendido que
um novo ambiente como o das últimas eleições não se repetirá em contexto de Brexit
problemático. O número de empregos que serão deslocalizados para fora do Reino
Unido constituirá um importante indicador de pressão.
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