sábado, 21 de janeiro de 2017

OS ECONOMISTAS SOB FOGO: JUSTA OU INJUSTAMENTE?





Dez penosos anos passaram sobre os acontecimentos de 2007-2008, os quais a partir da chamada crise do subprime americano provocaram uma série de réplicas, às quais a Europa não ficou imune. Do nosso ponto de vista, sabemos que, ao contrário do observado em Espanha, onde as referidas réplicas arrasaram o sistema bancário, conduzindo o país a um resgate orientado para os problemas da banca, em Portugal os acontecimentos de 2007-2008 precipitaram acontecimentos bem piores. Parece um paradoxo, mas não é. Uma réplica indireta deveria ser aparentemente mais fraca. Não pode dizer-se que a banca portuguesa tenha ficado imune a essas réplicas. Hoje, a posteriori, sabe-se que uma grande das imparidades descobertas no BES ou na CGD tem origem nesses acontecimentos. Mas esses acontecimentos não pressionaram a economia portuguesa como o registado em Espanha. O impacto indireto foi mais forte simplesmente porque acordaram demónios que tínhamos preparado com um modelo de afetação de recursos demasiado desprendido dos transacionáveis. As causas externas potenciaram causas internas para as quais há responsabilidades que a justiça e os tribunais irão muito provavelmente dirimir.

No meio de acontecimentos complexos com causas complexas, Wren-Lewis tem razão quando se insurge contra o foco excessivo na culpabilidade e cumplicidade dos economistas pois isso parece branquear responsabilidades de decisão política, não interessa agora saber se assessorados ou não por economistas alinhados com as más soluções. No seio de tanta complexidade, homogeneizar o grupo dos economistas parece representar uma má abordagem. A crise financeira irrompeu com a conivência de uma inadequada perspetiva de monitorização sobre os efeitos de alavancagem que a banca estava em geral a potenciar, com comportamentos de crédito especulativo. Aí houve culpa e erro dos economistas mais diretamente ligados à supervisão, materializados sobretudo na não monitorização dos níveis exacerbados de alavancagem. Nessa matéria a situação mudou entretanto, o que sugere que os erros geraram aprendizagem.

Estancada a crise financeira e a suspensão do problema foi relativamente rápida, a sucessão das opções e encruzilhadas da política económica que a partir daí se desenvolveu dividiu profundamente os economistas, por isso não tem sentido raciocinar como se um grupo homogéneo se tratasse.

A política monetária apoiou-se nas piruetas mais ousadas e certamente houve economistas que suportaram tais exercícios, embora outros não o fizessem. Os estímulos fiscais não foram suficientemente fortes mas isso não aconteceu porque não houvesse economistas a reclamá-lo. Um dos artigos mais relevantes da academia nos últimos tempos de autoria de Lawrence Summers e Brad DeLong demonstra precisamente que, em contexto de taxas de juro nulas ou negativas, o financiamento de défices públicos é vantajoso, já que os efeitos sobre o crescimento económico são suficientemente poderosos para compensar os custos da dívida no longo prazo. A austeridade foi simultaneamente denunciada e apoiada e, como sabemos, a desvalorização interna como meio de recuperação da competitividade recolheu o apoio dos economistas mais rígidos.

A profissão e a academia estão profundamente divididas. Por isso não tem sentido discutir se os economistas são justa ou injustamente o foco de todos os problemas. Numa coisa Wren-Lewis está certo. Provavelmente mesmo que não houvesse a mencionada divisão entre a classe as decisões políticas poderiam não ser substancialmente diferentes. O que significa que a classe política movimenta-se por si própria e ouve quando lhe convém a VOZ do pensamento económico. E esse é o verdadeiro problema: o que é que explica a perda de VOZ do pensamento económico vivo, seja no movimento que conduziu ao BREXIT, seja ao processo que levou à tomada de posse de Trump?

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