Numa obra recente (“The Price of Time”), o historiador e gestor de ativos Edward Chancellor apresenta-nos um interessante gráfico representativo de cinco milénios (remontando a tempos babilónicos) de taxas de juro de curto prazo (reprodução acima). Para além da inequívoca curiosidade decorrente da investigação subjacente (incluindo também a questão da legitimidade fundadora), o trabalho insere-se essencialmente na lógica ortodoxa que marca o posicionamento do autor e de acordo com a qual aponta as baixas taxas de juro diretoras como “a fonte de quase todos os males económicos”: “as taxas de juro estiveram far too low for far too long, com resultados ruinosos”.
De facto, a grande insurgência de Chancellor é dirigida contra o “produto maligno” que associa a um “falso credo” na ideia de uma definição de metas de inflação ― citando-o: “Não importa que taxas de juros negativas tenham desencorajado a poupança e o investimento e prejudicado o crescimento da produtividade. Não importa que taxas de juros ultrabaixas, fazendo sobreviver empresas zombies, tenham resultado na sobrevivência dos menos aptos. Não importa que as políticas do banco central tenham contribuído para o aumento das desigualdades, minado a estabilidade financeira, encorajado fluxos de capital ‘hot money’ e promovido inúmeras bolhas de preços de ativos, de apartamentos de luxo a criptomoedas.”
Estamos assim perante um livro por onde perpassa todo um debate em curso, aliás profundamente na ordem-do-dia e aqui recorrentemente referenciado pelo meu colega de blogue em sucessivos posts sobre a matéria e suas adjacências e derivações; um texto que, mesmo quando o autor aponta direções discutíveis ou claramente criticáveis (do notório e defensável papel anti-recessivo ou pró-expansionista da FED aos respetivos detalhes de pertinente argumentação técnica em termos de dinâmicas de rendimento, poupança, financiamento, produtividade e outras), justifica umas horas de atenção desde que sem a correspondente entrega de todos os pontos.
Tanto mais quanto à razoável admissão de que as medidas de quantitative easing não foram a principal causa da crescente inflação dos dias de hoje (mas sim, como refere o articulista do “Financial Times”, dimensões como a da não perceção atempada da escala da oferta de dinheiro ocorrida em 2020 em resposta à crise do Covid-19, da disseminação dos bloqueios das cadeias de valor e da força da recuperação ocorrida) acresce forçosamente a exigência de não se escamotear, então, uma abordagem séria dessa dúvida que fundamentalmente provém da reemergência do fenómeno inflacionista: pressagiará ela uma mudança fundamental e duradoura no enquadramento da política monetária tendente a aproximá-la das lógicas dominantes na década de 70 do século passado?
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