terça-feira, 30 de agosto de 2022

E DEPOIS DO ADEUS A TEMIDO?

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Afinal sempre parece existir alguma vantagem em se terem insónias. No caso de hoje, e enquanto a larguíssima maioria dos portugueses ingenuamente repousava, a de aceder ao conhecimento de um comunicado do Ministério da Saúde em que se informa que Marta Temido (MT) apresentou ao primeiro-ministro a sua demissão “por entender que deixou de ter condições para se manter no cargo”. Que MT já não tinha condições para tal era um dado de que só mesmo ela e o primeiro-ministro não dispunham (sobretudo depois da sucessão de atrocidades gestionárias que foram sendo desvendadas ao longo dos últimos meses), mas o facto torna-se muito relevante na medida em que se tratava de uma das ministras mais emblemáticas do “costismo” (chegou mesmo a aderir à militância no partido e a declarar-se pronta a ser mais alguma coisa nele) e também pelo momento em que a coisa acontece (será lógico que se olhe para esta “demissão” como sendo essencialmente um empurrão de Costa relativamente a alguém que deixou de lhe ser útil e assim passou a ver como descartável, ou seja, na perspetiva de tal lhe servir para o relançamento da imagem governativa que prepara para a rentrée). Diga-se, em nome de alguma justiça, que MT aguentou estoicamente períodos dificílimos à frente do nosso setor da Saúde (incluindo uma certa capacidade para contornar o criticismo de que era alvo por parte de vários agentes da nossa vida pública), pese embora o facto de nunca ter logrado tornar claro o que verdadeiramente a determinava (quer em termos ideológicos, quer em termos político-pessoais) e mesmo se tinha ou não tinha uma ideia bem definida sobre o que queria fazer. Acaba por sair ingloriamente e pela porta dos fundos, como quase sempre acontece a quem aceita desempenhar papéis cujo grau de exigência os torna insuscetíveis de resistirem à usura do tempo, esse grande escultor.


(adaptação de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

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